terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A PORCADA MAGRA E O CORTADOR DE CANA

A PORCADA MAGRA E O CORTADOR DE CANA

Paulo Toledo

Quem nasce em Minas Gerais, mais que mineiro é político. Por isso não tive como escapar dessa vocação ou mesmo destino. Então, não sei se por gosto, ou pelas circunstâncias, quando eu me dei conta, estava enfiado até o pescoço na política municipal.
Esse envolvimento na política de Pouso Alegre deu-me bons amigos. Mas, se não me trouxe inimigos, pelo menos, me proporcionou adversários de todo tipo.
Com relação aos chamados correligionários a coisa fica muito mais complicada, principalmente se a gente quiser permanecer fiel aos amigos e a princípios. Aí então, ninguém tem a certeza de quem estará do seu lado nas próximas eleições. Quem estará apoiando gente ordinária ou procurando defeitos nos contrários, mesmo que seja gente descente.
Hoje afastado das lides, isento de paixão, chego a admirar certos políticos da minha terra, com os quais nunca pude estar do mesmo lado, pois as tais circunstâncias nunca favoreceram.
Outro dia encontrei um desses políticos. E, em uma conversa rápida e franca, lhe perguntei:
__Como é que vai a política?
__Meu amigo, como você sabe e até chegou a me criticar por isso, eu não tive estudo, mas Deus me recompensou me dando muita inteligência. Então eu que comecei a vida criando porcos sei que quando uma porcada magra é colocada num chiqueiro novo, os magrelos comem até as tábuas do chiqueiro.
E falou mais:
__Quando a turma é ruim não adianta, não sai nada que preste. Eu tenho um amigo que tinha uma plantação de cana e a cana estava madura, no ponto de corte. Porém seus empregados em vez de trabalhar, viviam chupando cana. Como chupar cana exige boa dentadura ele dispensou os preguiçosos e contratou três caboclos banguelos. Gente sem dente não tem jeito de chupa cana, mas, sabe o que aconteceu?
Respondi que o canavial foi pra frente.
__Que nada rapaz. O dono chegou de supetão no canavial e viu esta barbaridade: um dos banguelos deitava de costa com a boca aberta e dois outros espremiam cana na sua bocona. Depois trocavam de posição.
Finalmente concordamos:
__Tem coisa que não tem jeito. Melhor a gente não mexer com política, não criar porcos e não acreditar em banguelo.