sábado, 29 de dezembro de 2012

O CIRCO

O CIRCO Paulo Toledo Respeitável público! Hoje eu vou falar do circo. Não existe Cirque Soleil, circo chinês, russo ou japonês. O melhor circo do mundo foi o “Circo Universo”, que tendo levantado sua lona, na metade do século passado, onde hoje esta a União Operária de Pouso Alegre, brindou a cidade com todo tipo de espetáculo: domadores e feras, trapezistas e palhaços, mágicos e ilusionistas, além de espetáculos dramáticos de palco e muita música e belas bailarinas. Mas, para completar isso tudo, ainda tinha a Amelinha, garota lindíssima, que de shortinho curtíssimo, atravessava o picadeiro sorrindo na corda bamba. Os meninos do internato do Colégio São José, que saiam direto para a função circense, ficavam babando, deslumbrados com tudo que era apresentado, para todos nós um encontro de magia e de sonhos. Mas, quando o circo desmontou a sua lona e partiu, a Amelinha permaneceu no imaginário da molecada por muito tempo. E, até hoje quando alguém daquela época procura o padrão de mulher bonita, lá vem na memória a malabarista da corda bamba. Naquele tempo era comum que algumas pessoas da cidade acompanhassem o circo quando ele partia para outras paragens. Alguns poucos viravam atores coadjuvantes e a maioria aceitava trabalhos mais modestos, função que na gíria circense era chamada de “amarra cachorro”. No entanto, a vida de liberdade e de mil novidades e costumes diferentes, proporcionada pela diversidade de lugares onde a lona era montada, atraia o espírito aventureiro de muita gente. Hoje eu fico pensando que aqueles meninos, em plena adolescência, que viviam trancados no internato, submetidos às filas diárias para a missa da manhã, para o refeitório, para as aulas, para a sala de estudo obrigatório e para o silêncio forçado no dormitório, após as oito horas da noite. Quando viram aquela explosão de vida e alegria no “Circo Universo”, ficaram convencidos que era ali que morava a felicidade. Então, se fosse possível, todos, sem exceção, partiriam com ele. Agora, tendo vivido uma montanha de anos, estou convencido que todos nós não fizemos na vida outra coisa a não ser nos transformar numa espécie de saltimbancos. E, se não seguimos com o circo na nossa juventude, nesses anos todos, domamos algumas feras, fizemos algumas mágicas e às vezes nos sustentamos pendurados em trapézios complicadíssimos. Não quero falar das ocasiões que nos sentimos como palhaços no centro do picadeiro. Então lá vai: “Hoje tem Marmelada? Tem sim senhor. Hoje tem goiabada? Tem sim senhor. E o palhaço o que é? É ladrão de mulher.”

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

DEUS EXISTE

DEUS EXISTE Paulo Toledo Tem gente que gosta de bicho: gato, cachorro, passarinho etc...Quando eu estava no Exército, tive um colega que tinha uma coruja de estimação, coruja essa que ele estava ensinando a marchar e que já estava atendendo alguns dos seus comandos. No meu caso, não sou ligado a bicho. Porém qualquer plantinha, dentro de um vaso, me encanta e fascina. Então, depois de aposentado, tenho dedicado boa parte do meu tempo à jardinagem, principalmente ao cultivo de orquídeas. Alias, são as orquídeas as responsáveis por boa parte do meu lazer cotidiano e com elas, como amador, venho tentando aprender e entender algo da natureza. O orquidário que possuo, há muitos anos, também funciona como enfermaria, hospital e até UTI, pois, para mim, pegar uma plantinha praguejada, raquítica e doente e torna-la bonita e viçosa é motivo de grande prazer. A escolha da companhia das orquídeas, não foi para mim feita por acaso e sim porque senti grande afinidade entre a vida delas e a de um velho aposentado. Pois, por gostar de um cantinho em sua morada é ali que o velho passa boa parte do dia. E, com a orquídea acontece coisa parecida, pois, quando acha o seu cantinho no jardim, desperta o seu viço e agradece florescendo sempre bela. Então, para evitar alguma impertinência, devemos respeitar o velho no seu canto e a orquídea no dela, tornando essa harmonia uma regra de satisfação para o idoso e de viço e beleza para a planta. Por vezes fico pensando no capricho e na infinita e maravilhosa capacidade da criação divina, quando floresceu o mundo. E, sem querer cometer um sacrilégio, arrisco dizer que o criador, além de tudo, também é jardineiro. E, essa é a maior prova que Ele existe.

COMO ENTENDER ?

COMO ENTENDER? aquilo era muitíssimo elevado, evoluído e complicado para um cientificamente pobre coitado, como eu me considerava e ainda me considero. Por falar em Einstein e a sua teoria da relatividade ou a sua equação: E=Mc2, eu logo fui achando que estava tudo mais do que correto e não tentei entender nada, pois Depois de muito tempo veio a teoria das partículas subatômicas, uma delas o tal de bóson de Higgs, apelidado de partícula de Deus e que teria sido responsável pela organização de tudo depois do Big Bang. (Acho que escrevi aqui algumas bobagens), se não foi isso, deve ser outra coisa, nem parecida com isso, dificílima de entender. Vamos parar como dizia Adoniran Barbosa, com essa conversa “que nois num intende nada” e vamos tentar entender outra coisa. Assim, por exemplo, por que o Maluf, ladrão condenado mundo a fora, além de estar livre no Brasil, ainda tem prestígio político a ponto de ter sido procurado por um ex-presidente da República e pelo prefeito eleito de São Paulo, para emprestar seu apoio, trocado por um punhado de cargos no governo? Essa história também não dá pra entender, acho até que é mais complicada do que aquelas coisas lá do começo. Quando eu era jovem estudante e não entendia alguma fórmula da matemática, um saudoso amigo e colega, mais inteligente do que eu, sempre me dizia: _Se você não consegue entender, decore. Eu me lembro sempre disso, porém essa do Maluf não dá pra entender e eu me recuso decorar.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

ENGORDANDO O RONALDINHO

ENGORDANDO O RONALDINHO Paulo Toledo Outro dia estava, com minha neta, vendo um programa de TV. Estavam na tela belas bailarinas dançando de maneira perfeita, com muita graça e beleza. Mas, eis que de repente, não mais que de repente, cai na tela, em primeiro plano, um sujeito falando “abobrinhas”, um monte de bobagens mesmo. Essa figura, segundo a minha neta, é um apresentador muito famoso. Se dependesse de mim e se fosse possível, era melhor tirar aquele tipo da tela e deixar as meninas bailando. Tenho a certeza que o programa ficaria muito melhor. Depois disso, dois ou três dias depois, li em uma revista semanal, que aquele cidadão gordo, grande feio e sem graça, ganha uma fortuna para atrapalhar a dança das garotas. Foi um verdadeiro espanto para mim, pois acho que para fazer aquilo que ele faz, qualquer um, menos dotado de salário, consegue fazer. Como eu suponho que ninguém entende de televisão e a minha neta, que é muito jovem, também não, fui perguntar a um amigo, que se diz “expert” no assunto, portanto mais atualizado do que nós, qual a razão daquele profissional ser tão valorizado no mercado de trabalho? _É uma questão de “marketing” e “IBOPE”. Respondeu ele. Santo Deus! Quando você pensa que já aprendeu um monte de coisas inúteis, ainda vem essa de “marketing” e “IBOPE”. Pode parar, vamos ficar por aqui. Agora, se por um lado a TV de maior audiência no país, paga ao Ronaldinho, um gordo que já é muito rico e engorda a sua conta bancária com milhões, só para ficar medindo a sua pança, durante várias semanas e dizem que isso é “marketing” e dá “IBOPE”. Por outro lado, fico com pena dos pobres telespectadores que têm que agüentar essa baixaria ridícula, apenas lastimando que esses milhões não tenham sido, agora sim, destinados para engordar subnutridas, que estão por aí.

URUGUAIANA 2

URUGUAIANA PARTE 2 Paulo Toledo Estou fazendo hoje cinqüenta e três anos de casado (12/12 /2012). Penso que este fato, aniversário de casamento, que para este casal tornou-se rotineiro, é coisa muito exótica, estranha e inusitada, quando se repete assim tantas vezes nos tempos atuais. Pois, na nossa chamada sociedade de consumo, quando as coisas estragam, não se manda consertar, simplesmente são trocadas por outras. Aliás, esse comentário de conserto e troca foi feito hoje, no café da manhã, pela minha querida esposa, que ainda me perguntou sobre quantas vezes tivemos de botar no conserto o nosso relacionamento. Daí, eu com a maior cara de pau, respondi que nesses consertos fizemos de tudo: meias-solas, remendos, retíficas e que também existiram algumas chamadas “gambiarras”, pelas quais eu assumo a inteira responsabilidade. Então, eu chego à conclusão plena, que apesar de todas essas restaurações, eu sou homem de uma só mulher e ela é a Ana Regina. Pois, tive a felicidade de encontrá-la, ainda menina, em Pouso Alegre e a paixão foi tamanha, que depois de uma breve namoro de semanas, me senti obrigado a partir para o Rio de Janeiro, cidade onde ela morava, para continuar o namoro, depois o noivado e o casamento. Hoje, no qüinquagésimo terceiro aniversário de nosso casamento, Ana Regina continua bonita e saudável. Ao contrário deste pobre “escrevinhador” que está muito gasto e usado. No entanto, eu espero que ela me ature e suporte mesmo assim combalido e meio estragado por algum tempo. Isto porque, se nas suas pequenas ausências eu me desespero, com certeza, não posso imaginar como seria a minha vida sem a sua companhia.

URUGUAIANA

URUGUAIANA Paulo Toledo Não eram os mosqueteiros e nem existia entre eles um Dartagnan. Eles eram tão somente os quatro Aspirantes que, formados pela Academia Militar, tinham escolhido a cidade de Uruguaiana para iniciar suas carreiras como oficiais do Exército. Muito Longe dos seus respectivos chãos, de suas famílias e enfiados na fronteira gaúcha com a Província de Corrientes na Argentina. Isso, na metade do século passado. Põe tempo nisso! No que me concerne (aprendi isto com o Jânio Quadros), o choque cultural e a Mudança de vida foi brutal. É só pensar em um rapaz de vinte e dois anos que teve uma vida até então super vigiada e controlada: seja pelo lugarejo em que nasceu e viveu em Minas, pelo internato no colégio e depois pela rígida disciplina militar do cadete das Agulhas Negras e de repente, começa a sentir que agora e naquele lugar é um oficial do “glorioso” Exército Brasileiro, então, por isso está sendo recebido de braços abertos pela sociedade local. Mas, voltando aos quatro, lá estão eles em Uruguaiana: Geraldo, Zé Pinto, Miguez e eu. Com algum dinheiro no bolso, livres, leves e soltos, em uma cidade cheia de lugares para gastá-lo. E, ainda bastava atravessar a ponte do Rio Uruguai para estar em Passos de Los Libres, cidade argentina onde nossa grana era bem valorizada. Então, essa foi a primeira grande compensação pela “ralação” que tivemos até chegar por aqui. No nosso quartel, que ainda era hipomóvel, tão logo nos apresentamos, cada um recebeu sua função, seu ordenança e sua montaria. Meu ordenança, soldado Tadeu, ficou então sendo o tratador do cavalo crioulo negro de nome corvo para mim distribuído. Esse soldado era um gaúcho da campanha, bom de papo e cheio dos ditos gauchescos engraçados, em pouco tempo ficamos amigos e ainda hoje me lembro de algumas comparações cheias de malícia feitas por ele. Dos quatro Aspirantes: Geraldo sumiu, desapareceu das minhas relações, coisa que deve ter acontecido por falta de afinidade mútua; Zé Pinto tornou-se um grande amigo, mas infelizmente faleceu ainda bem jovem, vítima de um acidente aéreo; Miguez vive em Belo Horizonte e está no seu segundo casamento. Do seu primeiro casamento eu não posso esquecer, porque fui eu que tive a honra de formalizar o pedido ao Seu Euclides, pai da noiva. De Uruguaiana quase tudo está apagado e o pouco que vem está borrado em minha memória. Porém, lá longe, muito longe, vem a figura da Leoní, minha namoradinha dos últimos tempos na cidade, menina que eu achava que seria a minha companheira para sempre. No entanto, voltando para Pouso Alegre, apareceu a Dona Regina...... (Bem, essa é uma outra história.)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O CAMELÔ

O CAMELÔ Paulo Toledo Quem se lembra do compositor Billy Blanco, deve se lembrar da letra de uma música sua que diz: O camelô esse dono da calçada, Na conversa bem jogada, Vende a quem não quer comprar,...... Ele é vesgo pois a profissão ensina, Ter um olho na esquina e outro no freguês, Assim de vez em quando escapa, Gozando a cara da “rapa” No entanto, na nossa cidade ele não precisa ser vesgo e nem ter medo de nada, ocupa toda a calçada e ainda reserva duas vagas de veículo para sua atividade. Creio que devemos respeitar o cidadão que trabalha para sustentar a sua família. Mas, às vezes eu me pergunto se não é um privilégio o fato de determinados indivíduos ocuparem espaços públicos para comercializar bugigangas, sem que sejam proibidos pela fiscalização municipal. Pergunto ainda, se por acaso, alguém que tivesse a coragem e se julgasse com iguais direitos, chegasse primeiro, na frente do privilegiado, colocando no mesmo local uma barraca de quinquilharias, coisas mesmo inúteis totalmente para a comunidade, parecidas com a do “dono” do espaço público, o que poderia acontecer com ele? O camelô atual teve a sua origem no mascate e no vendedor ambulante, que iam apregoando e vendendo os seus produtos de porta em porta. Nossa cidade teve dois exemplos muito representativos desses profissionais. Todos os antigos moradores de Pouso Alegre lembram-se do Biju e do Amendoim Torradinho da Avenida Dr. Lisboa. Essas figuras ficaram marcadas e queridas na nossa história e são lembradas com muita saudade. No entanto, os atuais camelôs, verdadeiros donos do centro da cidade, estão descaracterizando a Avenida e a Praça Senador José Bento, Tomaram conta de tudo e nesse “andar da Carruagem”, logo estarão cobrando pedágio nesses logradouros, dos intrusos demais moradores, que não compram as suas chorumelas, pinóias, titicas e bobagens, mesmo que custem ninharias, mixarias ou tutaméias. Pois é, não devemos menosprezar assim os camelôs, depois que um dos seus legítimos exemplares, o Sílvio Santos conseguiu despontar como grande empresário e o maior puxa-saco de governo, seja qual for. No entanto, também não podemos deixar que eles tomem conta da cidade, pois nela vivem milhares de pessoas e não só eles. Para finalizar, puxando a braza para minha sardinha e vendo a situação atual da Praça Senador José Bento, que ainda funciona como local de encontro e convivência de velhos aposentados, pergunto que tal trocar os seus camelôs por uma equipe de urbanistas?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CHIQUINHO DA BORDA

CHIQUINHO DA BORDA Paulo Toledo Procurando nos últimos escaninhos da memória, eu me vejo coroinha na igreja de Congonhal, e depois, como interno no Colégio São José. Logo, cercado de padres por todos os lados. De quase todos guardo lembranças vagas. No entanto, a lembrança de um deles sempre esteve muito nítida na minha memória, pois penso que era para ele que a diocese destinava as coisas mais difíceis e complicadas. Assim, lembro-me do Cônego Oriolo em Congonhal às escuras, conduzindo uma procissão, iluminada apenas pelas velas dos fiéis, enquanto executava um ritual de excomunhão de um padre que havia abandonado a batina. E, para espanto do moleque que eu era, a procissão virou de costas e passou de marcha-ré em frente à casa onde se encontrava o “excomungado”. (Coisa da Idade Média). Também encontro a cara gorda do Cônego Oriolo na capa da revista “O Cruzeiro” (A “Veja” daquela época) quando de olhos esbugalhados falava do exorcismo que praticara na paróquia de Borda da Mata. Aí vai o resumo do que o cônego deixou registrado no “Livro do Tombo” daquela paróquia: ____ “Em meados de fevereiro de 1953, benzi a casa senhor Alberto Simões de Carvalho para afastar barulhos estranhos que aconteciam à noite.”.......... No entanto, o barulho aumentou e na Semana Santa uma voz que se dizia chamar ‘CHIQUINHO’ comandava um animado baile, com uma gritaria infernal de palavrões horríveis........ Orientei o Sr. Alberto para que fosse a Ouro Fino procurar frei Belchior, sacerdote capuchinho que já havia praticado exorcismo na Itália........... No dia 11 de abril, no ritual de exorcismo praticado por mim e por Frei Belchior, a voz se revelou: ‘EU SOU O CAPETA’, renegou uma relíquia de Santa Terezinha: ‘ISSO É UMA MENINA’ e para uma medalha de Nossa Senhora cometeu o sacrilégio: “ISSO NÃO PRESTA”............... “Finalmente no dia 25 fiz a entronização do Sagrado Coração de Jesus no lar do Sr. Alberto e tudo ficou em paz”

O CARA DE PAU

O CARA DE PAU Paulo Toledo De um lado desta história está um açougueiro do Bairro da Faisqueira, que tendo a família grande, a freguesia pequena e o controle precário sobre suas finanças ficou endividado. Mas, tão na pindaíba que os juros bancários, enquanto teve crédito, consumiu o seu pequeno patrimônio. Alias, coisa muito comum nos dias atuais, quando os bancos estão aí mesmo para chupar o sangue do cidadão até a última gota e depois se vangloriarem dos lucros astronômicos que larapiaram (está no dicionário, pode conferir) de todos nós. Do outro lado está um amigo meu, também companheiro de pescaria, forte como um touro, “brabo” como uma cascavel e super cismado de que todo mundo quer passá-lo para traz nos negócios. Coisa de boiadeiro. Eu vivo tentando amansá-lo nos poucos contatos que temos agora e que foram muito freqüentes no passado. Porém, ele sempre sorri e diz que eu posso ficar tranqüilo, que comigo não vai ter briga, a menos que eu coloque negócio de mãe no meio. Coisa impossível, pois eu sou de boa paz e muito respeitador das progenitoras alheias. Esse meu amigo boiadeiro fornece a matéria prima para os açougues da cidade e foi assim que tendo vendido para o magarefe da Faisqueira, durante um bom tempo, por razões obvias, ficou sem ver a cor do dinheiro. Cobrança vai, desculpa vem muitas vezes e a “brabeza” do boiadeiro foi crescendo, até que um dia resolveu dar um ultimato para o devedor. Assim, o possível caloteiro tinha uma semana para resolver sua dívida ou então teria sua cara devidamente partida. Diz o meu amigo que não foi capaz de cumprir a sua ameaça e não quebrou a tal cara porque a desculpa que recebeu dessa vez o desarmou e por pouco não lhe provocou uma boa risada. Veja qual foi a desculpa do cara de pau: _ Olha aqui Celsão, eu devo pra você e pra um mundão de gente. Então, quando eu tenho alguma grana sobrando eu faço um sorteio pra ver quem eu posso pagar. E, se você continuar me enchendo o saco eu vou tirar você do sorteio.

ACREDITE SE QUIZER

ACREDITE SE QUIZER Paulo Toledo Próximo ao portão principal, quase no portão mesmo, do Cemitério Municipal da Rua Comendador José Garcia, existe um boteco que eu acho que é o paraíso dos “bebuns”. Eu digo isto porque você pode passar por lá, a qualquer hora do dia ou da noite e ver a turma “chupando o mé” sem parar e na maior alegria. Acontece que o cemitério tinha e deve ter ainda dois portões: um na Comendador e o outro que dá para os fundos, onde existe um bairro muito populoso. Então, esses tais portões são a entrada e a saída de um atalho que passa pelo campo santo e que, obviamente, ficam sempre fechados à noite. Um dos freqüentadores assíduos do tal boteco, que eu já me referi, é um pedreiro meu amigo morador lá das bandas do fundo da casa dos mortos, para quem esse atalho facilita muito a vinda pro boteco durante o dia. Acontece que esse meu amigo pedreiro é também um contador de “causos” e ele jura de pés juntos que em uma noite, saindo do boteco, estanhou muito o fato do portão do cemitério estar aberto e mais ainda, a presença de no local de uma loira muito bonita e convidativa. Então, ele perguntou à loirona, para iniciar uma conversa, se por acaso ela sabia se o portão dos fundos também estava aberto. Aí a sua surpresa se multiplicou quando ela simplesmente entrou no cemitério e lhe disse: _Me acompanhe. Virgem Santa! Pensou ele, agora é só engrenar a cantada que a loira está no papo. Então falou: _ A menina não tem medo de atravessar o cemitério assim “de noite”? A resposta veio fulminante: _ Quando eu era viva tinha.

ALHO, PIMENTA E SAL

ALHO PIMENTA E SAL Paulo Toledo Quando menino cheguei a Pouso Alegre, para o internato no Colégio São José. Logo percebi que os serviços públicos da cidade, principalmente água e luz, eram muito precários. Isto porque o prefeito da cidade era ou tinha sido o Dr. Sapucahy, mesmo nome do nosso maior rio. Sua esposa chamava-se Dona Judite e como o casal não tinha filhos, os críticos maldosos (eles sempre existiram) adaptaram a seguinte quadrinha: “Pouso Alegre, cidade que seduz. O sapucahy não dá água E a Judite Não dá luz.” Imaginem então Congonhal, que era apenas um distrito de Pouso Alegre. Lá a energia elétrica só existia à noite, vinda da sede do município, por meio de uma linha de transmissão de postes de madeira, de péssima qualidade, que não resistiam qualquer ventania ou chuva forte. Os críticos diziam que a iluminação das ruas de Pouso Alegre era tão ruim, que nos postes tinha um punhado de tomates pendurados em vez de lâmpadas. Pois a de Congonhal, quando tinha luz , era pior. Assim, lá nas noites escuras de Congonhal faziam o maior sentido os versos do grande poeta Ascenso Ferreira: “Na noite tão preta como carvão. A gente falava de assombração” . Então, esse era o assunto predileto e dominante nas minhas noites de menino. E, apesar da fama que eu tinha de corajoso, na verdade morria de medo de assombração. Coisa que, aliás, por muito pouco não se tornou real na minha vida de garoto. Pois, nas noites escuras de Congonhal cheguei a sentir calafrios e estranhos arrepios na espinha. Só faltou mesmo topar com alma penada. Que bom que hoje as assombrações e fantasmas foram todos exorcizados da vida real e passaram definitivamente para os filmes de terror. Mas, não custa nada a gente recomendar para quem tenha que enfrentar algum lugar com fama de mal assombrado, que não esqueça de levar um crucifixo e uma boa provisão de alho, pimenta e sal. Coisas que o tinhoso não gosta. Pois, certo estava Miguel de Cervantes: : “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.

QUEM MATOU O PADRE SENADOR JOSÉ BENTO

QUEM MATOU O PADRE SENADOR JOSÉ BENTO? Paulo Toledo Após seus deveres de chefe espiritual e político de Pouso Alegre, o Padre e Senador do Império, José Bento Ferreira de Melo, às 16h30 do dia 8 de fevereiro de 1844, apeia de seu cavalo e vai fazer um lanche rápido na casa de sua comadre Maria Bárbara do Sacramento Vilhena. Na saída, Maria Bárbara diz para o Senador: "Cuidado, existe um zum-zum que estão preparando uma tocaia para o senhor", José Bento, responde: "Isto é boato. Quem poderá atentar contra um Senador do Império?" E segue em seguida rumo à sua fazenda para acompanhar a colheita do milho e ver seu gado leiteiro. Naqueles tempos, a demarcação de terras era a principal fonte de conflitos entre os confrontantes. Dizia-se, em razão disso, que a vizinhança, contratara um pistoleiro para dar cabo do Senador. Mas ele, destemido, não deu ouvidos à sua comadre e seguiu viagem Às 17 horas, logo após a Rua das Taipas (hoje alto da Comendador José Garcia), no caminho velho da Faisqueira, logo após a subida da Volks - de tocaia, surge a figura do pistoleiro Dionísio Tavares da Silva que, com dois tiros de garrucha, implacavelmente assassina o grande Senador do Império. Dionísio, o pistoleiro contratado, foi descoberto um ano depois e recebeu uma pena de 30 anos de prisão que cumpriu em Barbacena. Já em liberdade, quarenta anos depois, Dionísio velo visitar Pouso Alegre e se tornou, então, pessoalmente conhecido por toda a população. FONTE: Blog do Bentu, o Blog da cidade de Senador José Bento 13 de Junho

CABO JURANDIR

CABO JURANDIR Paulo Toledo A guarnição Militar de Pouso Alegre, em passado recente, era um comando de general. Vários deles por aqui passaram deixando suas marcas e seus “causos”. De um deles às vezes eu me lembro, não só pela sua pose e porte, como também pelo acontecido entre ele e o seu motorista, o famoso Cabo Jurandir. Esse cabo era conhecido no meio da “milicada” pelo apelido de “cabo loco” e essa sua “trapalhada” foi, mais ou menos assim: O general estava no Rio de Janeiro e como tinha conseguido um avião da Força Aérea para voltar para Pouso Alegre, ligou para o quartel pedindo que mandassem o seu motorista até o campo de aviação da cidade, que o dito avião deveria chegar, naquela tarde, lá pelas 16.00 horas. Assim, o Cabo Jurandir deu uma geral no carro preto, engraxou os sapatos, caprichou na farda e se mandou pro campo de aviação. Chegando lá, desceu do carro, encostou-se ao mesmo e ficou esperando o avião do chefe. O avião chegou antes do escurecer e dava seguidos rasantes sobre a pista e não aterrissava. Pois o gado do pasto vizinho tinha rompido a cerca de arame farpado e algumas vacas estavam no meio da pista. O Piloto temendo o escurecer, vendo a passividade do motorista encostado no carro preto e sentindo que dali não saia nada, depois de um bom tempo e de vários rasantes, balançou as asas do avião, pra lá e pra cá e voou para Poços de Caldas onde a pista era iluminada. Como o avião balançou as asas e sumiu no horizonte, o Cabo Jurandir voltou para o quartel e guardou o carro preto. Chegando à Poços de Caldas o general pegou um táxi para Pouso Alegre e no quartel, puto dentro da farda, a primeira coisa que fez foi chamar às falas o seu motorista. Porém este na maior “cara de pau”, assim se explicou: Meu general, o avião balançou as asas, pra lá e pra cá. Avisando: general não veio , general não veio, então eu voltei pro quartel e guardei o carro.

BECO DO CRIME

BECO DO CRIME Paulo Toledo Era noite de Natal do ano de 1955,quando a voz solene do Monsenhor Otaviano, pároco da Catedral Metropolitana, rompeu o silêncio pelo alto falante da igreja: ”Meus queridos fieis... infelizmente, nesta noite santa em que nasceu o filho de Deus, uma ovelha do seu rebanho partiu. Uma jovem está morta em um beco da cidade. É preciso que alguém vá lá reconhecer o corpo de uma pobre menina!!! Jacira tinha 13 anos e era a caçula de uma família que tinha 11 irmãos e irmãs. Todos que a conheciam viam nela uma menina linda e super protegida pelos irmãos e pelo pai Zé Castelhano. Jésus Damasceno era meio mulato, boiadeiro, açougueiro e ainda não tinha completado 18 anos. Mas, escondido do pai da moça, mantinha um namorico com a bela Jacira. As famílias eram pobres, no entanto era comum naquela época o pai desejar um bom partido para a filha, coisa que Zé Castelhano e seus filhos achavam que estar longe das condições de Jesus Damasceno. Então, o pai de Jacira chamou o rapaz às falas e proibiu definitivamente o namoro. O respeito aos mais velhos e ainda mais se tratando do pai da sua amada também era coisa sagrada naquela época. Então, Jésus endoidou e como só visse a solução extrema dos Capuletos, naquela noite fatídica levou dois punhais à catedral e chamou a sua amada para consumar a tragédia. A cena aconteceu em um beco da cidade: Ela não teve força ou coragem para apunhalar seu amado. Ele a apunhalou cobriu o corpo com seu palitó e fugiu. E, este beco da cidade “Beco do Crime” se chamou. (fonte: Blog do Airton Chips)

domingo, 9 de dezembro de 2012

EU E A CIDADE

EU E A CIDADE Paulo Toledo “O centro do mundo é onde estão plantados os nossos pés”. Li isto hoje em uma crônica e tive vontade de falar sobre a cidade onde vivo. Isto porque fiquei velho nesta cidade e há algum tempo eu comecei a pensar que faço parte da sua história, coisa mínima, como qualquer um de seus mais humildes habitantes. Mas, todos devem ter dado alguma contribuição, por menor que seja para o desenvolvimento e a importância de Pouso Alegre dos dias atuais. Aqui neste chão eu me sinto bem, porque aqui estão pessoas amadas e queridas: meus parentes, meus amigos e muitos conhecidos que, com raras exceções, me tratam com bondade e sempre me acolhem com o maior respeito. Acho até que as exceções que são raras mesmo, devo colocar na conta de alguns forasteiros mal educados. Esta cidade não tem a melhor qualidade de vida do país e suponho que também do Estado de Minas Gerais. Pois isso é coisa da estatística que já disseram, com razão, que é o tipo da ciência frívola. Mas, para mim ela lembra muito uma fábula que conta a resposta dada por um sábio, quando lhe perguntaram de onde ele era e a sua resposta foi mais longa que a esperada: “Quando eu era menino, na escola primária, a professora ensinava os pontos cardeais e dizia: na nossa frente está o norte, atrás esta o sul, à direita o leste e na esquerda o oeste. Aí, vendo que eu estava distraído, me perguntou onde é que eu estava. Então eu respondi prontamente: todos nós estamos no centro do mundo”. Aquele menino da fábula sabia das coisas e eu aqui em Pouso Alegre me sinto como ele, achando que tudo existe para que esta cidade exista, uma vez que eu a escolhi para morar, criar a minha família e viver enquanto puder.

sábado, 1 de dezembro de 2012

NO BAR

NO BAR Paulo Toledo Eu sempre gostei de um papo e de uma cervejinha, então, como essas coisas acontecem é no boteco, foi para lá que eu me mandei e lá permaneci, freqüentando-o assiduamente, durante um bom tempo. Mas, qualquer um pode perguntar: Por que boteco? Cerveja tem em casa e papo também. Respondo: A cerveja pode ser a mesma, mas a conversa em família tem que ser respeitosa e cheia de regras e a do botequim é totalmente desregrada, desbocada e, às vezes, até pornográfica, melhor dizendo: pura baixaria. No ambiente do boteco também aparecem os tipos mais estranhos e divertidos. Alguns até são interessantes e outros meio malucos. Tanto uns como os outros ajudam a animar a prosa. A entrada no bar é coisa solene, pois o freguês chega à porta como quem não quer nada, depois dá uma olhada no ambiente e se a sua turma ainda não chegou, começa a examinar a clientela e quase sempre acha alguém esperando companhia. Daí, já se estabelece o papo e a cerveja já vem. Se por acaso o cara não for uma mala, logo será admitido na confraria. Quando a turma está reunida a coisa pega fogo e se anima porque afloram todos os tipos de assunto: piadas, fofocas, notícias da cidade, política, religião, gozações e os comentários mais absurdos e engraçados do dia-a-dia da cidade, do país e do mundo. Agora, escrevendo estas coisas, bateu muito forte, dentro do meu peito uma saudade imensa da minha turma de bar, a nossa chamada confraria do Uiapurú, turma essa que era numerosa, mas que a maioria já está do lado de lá, tomando “umas e outras” com o velho São Pedro. Isso mesmo, enquanto aguarda os remanescentes, que do lado de cá, pela idade e condições físicas, em vez do boteco vão para a farmácia. Trocaram a cerveja por uma penca de remédios.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

TENENTE ROSSI

TENENTE ROSSI Paulo Toledo “O melhor espelho é um velho amigo” e “Eles entram na vida da gente e deixam sinais”. Essas duas belas frases sobre os amigos se aplicam perfeitamente à amizade que dediquei ao Tenente Rossi. Militar aposentado, professor de Educação Física, pai de cinco belas meninas, figura popular de Pouso Alegre, pescador fanático e “frasista" de primeira linha. Ele era também conhecido por Rossão, pelo seu porte avantajado. No entanto, todo mundo sabia que o seu coração era tão grande como ele próprio e por isso sua casa e seu rancho de pescaria viviam rodeados de amigos. Meus primeiros contatos com sua figura ímpar aconteceram no Colégio São José do Diretor Cônego Aurélio, antes dos Padres Pavonianos, onde eu era um menino interno e ele aparecia por ocasião do7 de Setembro, para treinar a molecada para o desfile na avenida. Depois, já adulto, como ele era vizinho do meu pai, a paixão paterna e minha pela pescaria foi o elo que nos uniu, pois ele era amigo de todos os pescadores dos rios de Pouso Alegre e adjacências e não recusava um convite para voltar à beira do rio, mesmo que dela tivesse chegado naquele momento. Aprendi a pescar e gostar de tudo que se refere às pescarias com o Tenente Rossi, mais do que isso, se hoje eu arrisco fazer uma macarronada ou outra iguaria qualquer, é porque eu estou tentando imita-lo. Tenho ainda guardadas na memória, algumas pérolas do seu divertido fraseado. Então lá vai uma: Depois de uma discussão em casa, com sua esposa Dona Ritinha que teve o apoio das meninas, Seu Rossi desabafou: “na minha casa só dá mulher, só tem dois machos eu e um pé de mamão lá no fundo do quintal, até o papagaio fala fino”. Esse era o Tenente Rossi............Quanta saudade! Curtir ·

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"PUTZGRILA"

“PUTZGRILA”! Paulo Toledo Quando li “Os Sertões” do genial Euclides da Cunha, tive a primeira e completa descrição do que é o fanatismo, sentimento extremo que toma conta do ser humano e o leva, muitas vezes, para conseqüências trágicas. Confesso que aquela leitura foi de uma importância fundamental para que tentasse entender também como o fanatismo político pode se transformar em dogma e religião. Estou escrevendo estas coisas e pensando em uma frase famosa de Karl Marx: “A história se repete a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Caso o co-autor do “manifesto comunista”, como profeta, não estiver equivocado mais uma vez, pois profetizou o fim do capitalismo, então, depois da tragédia do Antônio Conselheiro, estamos assistindo uma farsa, cujo farsante e palhaço principal esta mais do que evidente. A dolorosa história de Antônio Conselheiro, de Belo Monte e de seus seguidores, ficou magistralmente registrada por Euclides da Cunha, mostrando como um povo miserável e ignorante pode transformar um líder visionário e maluco no “messias”, que conduzira todos os crentes para o paraíso. Então, esta seria a tragédia da primeira vez. O que está se passando na atualidade brasileira e todos nós estamos assistindo de braços cruzados, parece estar concretizando a profecia marxista. “Putzgrila”! Então, é a farsa da segunda vez.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

VIGILANTE NOTURNO

VIGILANTE NOTURNO Paulo Toledo Fiquei sabendo hoje, por um panfletinho colocado na minha caixa de correspondência, que a partir do dia 10 de Dezembro, um trabalhador autônomo que se diz vigilante noturno, passará na minha casa recolhendo um donativo de natal. Esse tal panfletinho é uma verdadeira jóia de coisa bem bolada, pois pode ser distribuído em todas as casas, em todas as ruas e bairros da cidade. Depois o Sr. Arlindo, que o assina, vai passando e arrecadando a quantia que o contribuinte resolver destinar à sua importantíssima atividade. Como eu não conheço o Sr. Arlindo, não senti a sua presença no meu bairro e nem ouvi o seu tradicional apito de vigilante noturno, deste mato não sai coelho. Mas, vamos imaginar que uma pequena porcentagem de moradores da cidade acredite no Sr.Arlindo. Daí ele vai faturar alguma coisa e sai no lucro. No passado, (olha eu aí, de novo, voltando pro passado), na minha rua tinha, de fato, um guarda noturno que fazia um “bico” circulando de bicicleta pelo bairro e apitando para anunciar a sua presença. Esse cidadão era remunerado mensalmente pelos moradores e até tornou-se amigo da minha família. Porém, (sempre tem um porém), em uma manhã, o vigilante estava no portão da minha casa querendo um prosa comigo. Isso me deixou apreensivo por pensar que, naquela madrugada, algo de anormal tivesse acontecido com o meu patrimônio. Ledo engano, quem tinha sofrido um dano patrimonial, tinha sido o próprio vigilante. Pois, dormiu no serviço e ficou sem a bicicleta. Depois disso, perdeu o “bico”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

VITOR FUMAÇA

VITOR FUMAÇA Paulo Toledo Conheci, nestes longos anos de vida, gente da mais variada espécie e alguns foram meus diletos amigos. Nesse grande elenco tinha gente: alta, baixa, gorda, magra, negra, branca, mulata, velha, moça, bonita, feia e etc... A maioria desse povaréu levava uma vida quase que normal. Porém, o Vitor Fumaça se destacava. Ele era diferente e especialíssimo. Mas, para mim, como amigo leal e companheiro de pescaria era insubstituível. Vitor possuía um rancho de pescaria às margens do Rio Sapucaí, no qual tudo foi feito por ele próprio, desde a alvenaria, a carpintaria e as outras coisas mais. Esse rancho era super rústico, possuindo apenas o conforto necessário para abrigar a tralha de pescaria e para que os pescadores pudessem executar um peixe frito ou ensopado, dependendo da pesca do dia. Esse era o Vitor Fumaça que eu conhecia, sem saber que no passado ele tinha sido ligadíssimo na cachaça e que depois do primeiro gole ele mudava completamente. Ficava outro. Então, ignorando esse detalhe importante e pensando em retribuir a sua parceria do Sapucaí, convidei-o para uma pescaria, de uma semana, no Rio São Francisco, com os meus companheiros do rancho de Maria da Cruz. No primeiro dia no Velho Chico, fomos eu e ele no barco, eu no piloto e ele na poita, como de costume. Ms, eis que de repente, no meio daquele rio enorme, dentro do barco, eu senti um forte cheiro de cachaça, viro para ele e pergunto: _Por acaso Vitor, tem “cangibrina” por aqui? Ele responde: _Eu não bebo. Mas, eu vi, lá do outro lado do rio, um pescador no barranco, com uma garrafa de pinga louca de fedida. Depois dessa resposta absurda, voltamos para o rancho. E, à noite, desconfiado do seu estado etílico, ele foi deixado no rancho, aos cuidados do Tonho, zelador do rancho. Portanto fora da pescaria. Quando voltamos da pescaria noturna, Tonho nos esperava à beira do barranco e foi logo dizendo: _O Fumaça aprontou. Em resumo. Vitor Fumaça tinha feito um verdadeiro comício na porta do rancho. Quando juntou gente ele disse, entre outras coisas, que teve uma “puta” decepção com a porcaria do nosso rancho, pois o dele no Sapucaí tinha três andares e uma pista de pouso para helicóptero, condução que ele usaria caso voltasse a Maria da Cruz. E, para finalizar alertou os presentes para que se cuidassem com os pescadores de Pouso Alegre, pois era gente muito exploradora. Vitor Fumaça continuou meu amigo. Mas, não pude evitar as gozações dos colegas, enquanto freqüentei o rancho de Maria da Cruz. Pois, toda vez que eu mandava uma pinguinha, sempre ouvia: _ Olha o Fumaça.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

ELEIÇÔES 2012 ELEIÇÕES ANTIGAMENTE

ELEIÇÕES 2012 X ELEIÇÕES DE ANTIGAMENTE Paulo Toledo Fiquei velho e por isso já passei por uma “chuvarada” de processos eleitorais. Eles sempre despertavam a idéia e a esperança de que: agora sim, vamos escolher o melhor vereador, prefeito, governador e presidente. Todos voltados para o bem comum e o puro ideal de bem governar a nossa cidade, estado e país. Tive algumas alegrias, poucas é verdade. Mas, também tive uma “enxurrada” de decepções e tantos desenganos que, por estar desobrigado pela idade, sequer fui atrás das máquinas de votar nesta eleição de 2012. Aliás, só notei que a eleição aconteceu, por causa de um foguetório inútil e de uma sujeira monumental que emporcalhou esta cidade. É bom lembrar que na quinzena anterior às eleições, pela ação da prefeitura, a cidade recebeu um mutirão de limpeza e tapação de buracos. Terminado o processo, senti que a imundice da cidade também tinha incomodado ao Gilson Costa, meu amigo do facebook. Então, me restou a esperança que tenha servido de lição para aqueles que desperdiçaram muita grana só para sujar a cidade e, como não foram eleitos, não poderão gozar as delícias do “árduo” trabalho de vereador que, entre outras coisas, terá que nos representar na fiscalização dos atos do prefeito e de seu secretariado, coisa muito difícil. Mas, por falar em eleição, vem a idéia de cidadania (ou a falta dela). Daí, este velho eleitor fica pensando até que ponto se desenvolveu a cultura política do nosso povo, ao verificar que com a urna eletrônica a coisa não mudou muito, pois hoje se vota, com exceções é claro, para atender um pedido ou ordem de alguém. Então não é diferente da época dos currais eleitorais, dos cabos eleitorais e do voto de cabresto. A propósito, nas eleições de antigamente, o máximo que se pode imaginar em voto de cabresto, era executado por um antigo e famoso cabo eleitoral de um dos bairros de nossa cidade. Ele recolhia o título do eleitor e só o devolvia na porta da seção eleitoral, acompanhado de um envelope fechado que continha as cédulas dos candidatos que ele queria eleger. Ai então dizia pro eleitor; _Vai lá e coloca esse envelope na urna. E se por acaso o eleitor perguntasse em quem estava votando ele respondia: _ O que você quer saber é impossível. O voto é SECRETO, meu companheiro.

sábado, 10 de novembro de 2012

EU DESISTO

EU DESISTO Paulo Toledo _”Desta vez é pra valer. Eu parei, não quero saber mais de política e nem admito que se toque nesse assunto, nesta casa ou na minha presença Assim ele falou no dia seguinte das eleições, em Morada Alegre, depois da terceira derrota sofrida como candidato a vereador. Aí, então, foi quase que aplaudido pela família. Nas duas primeiras vezes que ele se candidatou, pensava que era coisa de aprendizado e que ia adquirir muita experiência para a cartada final da terceira vez. Naquelas ocasiões só defendeu idéias, projetos que achava indispensáveis para a cidade e que a sua população merecia. E, ainda teve um detalhe: quase não gastou grana com propaganda. Compra de votos, nem pensar. No entanto, agora ele não se conformava com a votação ridícula que teve, muito menor do que das outras vezes, apesar do apelo, do empenho, da dedicação e da enorme despesa que teve, usando as mesmas armas dos seus concorrentes, inclusive fazendo alianças até com gente corrupta, safada e ordinária. Conhecendo a sua dor e decepção e querendo mostrar o seu exemplo negativo para as pessoas de bem, eu, aqui do meu canto, fico pensando se é justo e descente esse sistema de escolha dos nossos vereadores e fico na dúvida se essa gente que vai para a Câmara teria interesse no cargo, caso o mesmo não fosse remunerado. No passado, Morada Alegre, teve um vereador, amigo do prefeito, que nunca manifestou uma opinião, nunca apresentou um projeto ou coisa que o valha. Sempre votava ficando em pé, ou permanecendo sentado, conforme fosse o pedido do Presidente. Então, diziam na cidade que ele votava com a bunda. Mesmo assim, ele representava o seu povo e era remunerado pelas suas bundadas.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

MOBILIDAE URBANA

MOBILIDADE URBANA Paulo Toledo Penso que a solidão não significa tristeza e depressão, pois a gente pode estar só, mas alegre e feliz, desde que tenha como companheira uma atividade prazerosa, como por exemplo: a jardinagem, a pintura, a oficina de artesanato ou até mesmo papel e lápis para registrar um sentimento do momento. Acho que estou tentando falar deste solitário contador de “Causos”, que cada vez mais se isola em sua casa, em função de diversos e irremovíveis fatores, tais como a idade e a mobilidade urbana da nossa cidade. Dizer que a idade limita muito as nossas atividades é uma redundância, embora alguns velhos “papudos” se digam com energia suficiente para ter uma vida plena, ativa e saudável. E, este não é o meu caso. Porém, a mobilidade urbana, isto é, a facilidade da gente se locomover para um lugar da cidade que tenha vontade ou necessidade de estar, independentemente do tipo de veículo que se possa utilizar, é a causa principal do enclausuramento dos idosos. Assim, no meu caso, quando tenho que abandonar o meu refúgio para cumprir uma obrigação qualquer na cidade, a primeira preocupação que tenho é a de como me deslocar até aquele local e de que forma vou parar o meu carro, já que não tenho como contar com outra forma de condução. E, nesse caso, é comum chegar onde preciso ir e voltar para casa, pois não tive como estacionar o veículo a uma distância adequada. Estou dizendo tudo isso para deixar no ar a pergunta: _Como a cidade cresce e a população envelhece, daqui a dez ou vinte anos, como as pessoas e principalmente os idosos vão viver em Pouso Alegre?

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

VOLTA AO PASSADO

Outro dia me dei conta que estava fazendo mais um aniversário quando alguns amigos e parentes me telefonaram, para os tradicionais cumprimentos. Mas eis que um desses amigos me arremessou para o passado, em uma velocidade espantosa, quando me perguntou se eu já tinha feito mais uma marca, dando um talho no gancho do meu estilingue. Virgem Santa! Quanto tempo! Põe tempo nisso! Acho que nem existe estilingue nos tempos atuais. Alias isso até é muito bom, pois a passarada e as vidraças dos vizinhos ficam protegidas, coisas que eram muito vulneráveis em priscas eras. Escrevi priscas eras. Puxa vida! Isto é mais velho que o gancho do meu estilingue e antes disso dizem que não havia estrelas nem sóis, nem luas ou planetas, ou seja, prisca é coisa anterior ao que vem antes. (Será que deu pra entender?) Mas, voltando ao estilingue, acho que com o arquivamento dessa arma ridícula e primitiva, a humanidade evoluiu bastante, pois ela era responsável pela idéia, colocada na molecada, que passarinho foi colocado no mundo pra gente treinar a pontaria, inicialmente a pedradas, depois aperfeiçoando com armas de fogo. Então, hoje quando vejo o meu jardim repleto de pássaros, de várias espécies, fico super feliz, ao mesmo tempo em que dói dentro do meu peito, um remorso tão antigo quanto as estilingadas que dei e as marcas que fiz no cabo do meu estilingue.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

AS MENINAs DA RUA DAVID CAMPISTA

AS MENINAS DA RUA DAVID CAMPISTA Paulo Toledo Era o ano da graça de 1948, Pouso Alegre ia fazer 100 anos e quem estivesse passando pela Praça Senador José Bento, lá encontraria um monte de charretes, condução individual e meio de transporte de pequenas cargas, principalmente das malas e dos viajantes que chegavam e partiam pela “Maria fumaça” da Rede Mineira de Viação. Mas, as damas da sociedade e, principalmente, as suas protegidíssimas filhas, ficavam muito longe daquele moderno, cheiroso e rápido meio de transporte. Pois, era com as charretes que acontecia um famoso desfile nas tardes de domingo e que tinha como palco a avenida Dr. Lisbôa e a Praça da Catedral. No desfile dominical, cada uma contratava a sua charrete e todas vinham rizonhas e convidativas, protagonizar uma franca exposição de pernas, para delírio da meninada, que, das outras fêmeas da cidade não viam uma nesga de perna sequer. Estou falando das meninas da Rua David Campista, local que a meninada não arriscava aventurar-se, por respeito aos pais e pelo temor que a má fama do lugar anunciava. Na David Campista, ficava o “BATACLÔ da centenária Pouso Alegre.

RÉQUIEM PARA O VELHO CHICO

Caros amigos, sócios do Rancho de Maria da Cruz e seus assíduos freqüentadores, “Não há bem que sempre dure ou mal que não acabe”, isto é, nada dura para sempre. Ainda bem que as coisas funcionam desse jeito. O fim daquilo que foi bom, pode ser muito difícil, mas com o tempo, a idade chega e como esse fim se torna inevitável, temos que estar preparados para isto. Pois, a milenar sabedoria budista diz: “A única coisa permanente é a impermanência das coisas”. Assim, quando o velho pescador faz a sua derradeira pescaria no Velho Rio São Francisco, navegando por ele ou admirando as suas margens e sua beleza fascinante, sempre lhe vêm à mente coisas tão antigas que ele fica desconfiado que, neste cenário, haja mesmo existido em outras vidas, pelas quais tenha passado como um ser vivente qualquer: talvez um sapo, um peixe, um índio ou mesmo um crocodilo, como se proclamava João Guimarães Rosa. Esse rio foi como uma mãe generosa que tudo deu: alimentou, lavou, fertilizou e criou gerações. Rio que foi rico e hoje, super maltratado, nada mais pode dar para o povo pobre, bom e simples que habita às suas margens e também para aqueles que muito lhe amam e dele receberam no passado o prazer de abundantes pescarias. Rio do folclore, da música, da poesia, do foguetório e do caboclo d’água, hoje apenas uma assombração brincalhona. Rio do Rancho da Dona Arcanja, do Tonho, do Zú, da Fatinha, do Zé Capeta e dos meus muito caros amigos e companheiros de pescarias memoráveis. Em resumo, o velho pescador, pela sua idade e condições físicas, está se despedindo do velho rio que também está esgotado. No entanto, leva consigo a sua imagem como o poeta Manuel Bandeira levou do seu “beco”, isto é, “intacta e suspensa no ar”, no momento em que ele diz: “ADEUS PARA NUNCA MAIS”

terça-feira, 6 de novembro de 2012

CARGO DE CONFIANÇA

Aí, para formar o governo, ele pegou a sua turma e a espalhou, distribuindo todo mundo, pra ocupar todos os cargos importantes em termos de prestígio e poder. No entanto deixou reservado para o seu fiel escudeiro o principal cargo de confiança. Aliás, esse cargo era assim chamado porque o seu ocupante seria o seu principal conselheiro e ajudante em todas as ações de seu governo. Mais do que isso, ele teria papel fundamental em tudo que fosse necessário para o seu projeto de poder, no atual mandato e na continuidade do seu grupo pendurado nos principais cargos da República, até que ele mesmo conseguisse vislumbrar, lá pra frente, alguém que pudesse substituí-lo. A outra característica do tal cargo de confiança e a principal é a de que a confiança tinha que ser um sentimento mútuo entre o governante e seu auxiliar principal. Então tudo e todas as ações e atos, legítimos ou não, de um teria de ser do inteiro conhecimento do outro. Em compensação, um não deixaria o outro abandonado no caso de que uma ação de poder não fosse considerada legítima e legal. O tempo passa e o pior pra eles acontece. Coisas foram feitas que além de ilegítimas foram verdadeiramente criminosas. Então, depois de denunciadas e provadas o detentor do cargo de confiança é julgado, condenado e vai pra cadeia. Perguntas que ficam no ar: _ como estará o papo entre o escudeiro e o seu chefe? _ O tal escudeiro vai ficar peladinho na chuva? _ E o chefe? Fica numa boa?

"JUS EXPERNIANDI"

Nós sabemos que a maioria no governo é descente, porém também sabemos que há uma cambada de marginais infiltrada por toda máquina governamental. No entanto, dessa cambada, somente alguns poucos políticos brasileiros podem ser tachados oficial e solenemente como corruptos. Assim, num país em que até o Maluf, que é procurado pela polícia no mundo inteiro, não pode ter esse rótulo, agora o Supremo Tribunal Federal sapecou essa péssima qualidade em um punhado de gente tão importante, que mandava no país em passado recente. E, olha que esse tribunal não é pouca coisa, não é um jurizinho de programa de auditório de TV, quem está falando é a mais alta corte de justiça do país e de maneira definitiva. Então, se o STF diz que José Dirceu, José Genuíno e Delúbio Soares, entre outros, estão condenados por corrupção, nós podemos, eu aqui do meu canto e todo mundo por ai a fora chamá-los desse jeito, por essa alcunha e temos conversado. No entanto, por incrível que pareça, existe um furioso protesto, suponho que sem precedentes, de um desses corruptos, coisa sem lógica e sem sentido, falando até em democracia e estado de direito e não reconhecendo no STF autoridade para puni-lo. Confesso que fiquei tão indignado com o palavrório do corrupto, ofensivo ao Supremo, que tive que consultar um velho advogado meu amigo, sobre se essa manifestação não merecia uma pena adicional. Ele, no entanto, respondeu-me na maior calma e tranqüilidade: _O corrupto está apelando, como todo mundo que não tem razão para o “jus experniandi”.

MARCUS VALÉRIUS

Marcus Valérius Corvus (o Corvo), segundo a Wikipédia (blog do Tass) era general romano quando Cristo foi crucificado. Daí, Tass comenta: “Cada época tem o Marcos Valério que merece”. Assim, se na história universal, apareceu alguém homônimo que pode ser comparado a ele, por aqui, na história desta terra de palmeiras, onde canta o sabiá, tenho a absoluta certeza que ele é imbatível em qualquer posição ou atividade. Então ele é o Marcos Valério Único. Agora, se na vida real ninguém a ele se compara, fica difícil procurar no nosso folclore um tipo que a ele se assemelhe. Fico pensando no Pedro Malas Artes, no Odorico Paraguaçu do Bem Amado, ou então nos personagens dos “Trapalhões”: Didi, Dedé, Muçum e Zacarias. Todos com pós-graduação em esperteza, malandragem e vigarice. Mas, por que ele é tão importante? Ora, toda a sua excelência deriva do que ele sabe, ou finge saber da picaretagem alheia. E, como vivemos em um país de picaretas, todos que têm rabo preso o temem. Alias é um mundo de gente muito importante. Então, ele, malandramente espalha em dozes homeopáticas o que sabe, ou finge saber, deixando muita gente apavorada, tornando-se assim a figura exponencial da política brasileira do momento, capaz de desafiar até o sapo barbudo e transforma-lo em um engolidor de sapos. Aí, eu volto a pensar, como o mundo dá voltas, como o que hoje é verdade, amanhã não passa de um blefe. Como que uma personagem que em tudo que mexeu deu errado e agora está condenada a quarenta anos de prisão, ficou, assim, tão temida pelos poderosos? Respondo: eu não sei como vai acabar esta história e como acho que ninguém sabe, aqui coloco umas reticências.....