sábado, 29 de dezembro de 2012

O CIRCO

O CIRCO Paulo Toledo Respeitável público! Hoje eu vou falar do circo. Não existe Cirque Soleil, circo chinês, russo ou japonês. O melhor circo do mundo foi o “Circo Universo”, que tendo levantado sua lona, na metade do século passado, onde hoje esta a União Operária de Pouso Alegre, brindou a cidade com todo tipo de espetáculo: domadores e feras, trapezistas e palhaços, mágicos e ilusionistas, além de espetáculos dramáticos de palco e muita música e belas bailarinas. Mas, para completar isso tudo, ainda tinha a Amelinha, garota lindíssima, que de shortinho curtíssimo, atravessava o picadeiro sorrindo na corda bamba. Os meninos do internato do Colégio São José, que saiam direto para a função circense, ficavam babando, deslumbrados com tudo que era apresentado, para todos nós um encontro de magia e de sonhos. Mas, quando o circo desmontou a sua lona e partiu, a Amelinha permaneceu no imaginário da molecada por muito tempo. E, até hoje quando alguém daquela época procura o padrão de mulher bonita, lá vem na memória a malabarista da corda bamba. Naquele tempo era comum que algumas pessoas da cidade acompanhassem o circo quando ele partia para outras paragens. Alguns poucos viravam atores coadjuvantes e a maioria aceitava trabalhos mais modestos, função que na gíria circense era chamada de “amarra cachorro”. No entanto, a vida de liberdade e de mil novidades e costumes diferentes, proporcionada pela diversidade de lugares onde a lona era montada, atraia o espírito aventureiro de muita gente. Hoje eu fico pensando que aqueles meninos, em plena adolescência, que viviam trancados no internato, submetidos às filas diárias para a missa da manhã, para o refeitório, para as aulas, para a sala de estudo obrigatório e para o silêncio forçado no dormitório, após as oito horas da noite. Quando viram aquela explosão de vida e alegria no “Circo Universo”, ficaram convencidos que era ali que morava a felicidade. Então, se fosse possível, todos, sem exceção, partiriam com ele. Agora, tendo vivido uma montanha de anos, estou convencido que todos nós não fizemos na vida outra coisa a não ser nos transformar numa espécie de saltimbancos. E, se não seguimos com o circo na nossa juventude, nesses anos todos, domamos algumas feras, fizemos algumas mágicas e às vezes nos sustentamos pendurados em trapézios complicadíssimos. Não quero falar das ocasiões que nos sentimos como palhaços no centro do picadeiro. Então lá vai: “Hoje tem Marmelada? Tem sim senhor. Hoje tem goiabada? Tem sim senhor. E o palhaço o que é? É ladrão de mulher.”

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

DEUS EXISTE

DEUS EXISTE Paulo Toledo Tem gente que gosta de bicho: gato, cachorro, passarinho etc...Quando eu estava no Exército, tive um colega que tinha uma coruja de estimação, coruja essa que ele estava ensinando a marchar e que já estava atendendo alguns dos seus comandos. No meu caso, não sou ligado a bicho. Porém qualquer plantinha, dentro de um vaso, me encanta e fascina. Então, depois de aposentado, tenho dedicado boa parte do meu tempo à jardinagem, principalmente ao cultivo de orquídeas. Alias, são as orquídeas as responsáveis por boa parte do meu lazer cotidiano e com elas, como amador, venho tentando aprender e entender algo da natureza. O orquidário que possuo, há muitos anos, também funciona como enfermaria, hospital e até UTI, pois, para mim, pegar uma plantinha praguejada, raquítica e doente e torna-la bonita e viçosa é motivo de grande prazer. A escolha da companhia das orquídeas, não foi para mim feita por acaso e sim porque senti grande afinidade entre a vida delas e a de um velho aposentado. Pois, por gostar de um cantinho em sua morada é ali que o velho passa boa parte do dia. E, com a orquídea acontece coisa parecida, pois, quando acha o seu cantinho no jardim, desperta o seu viço e agradece florescendo sempre bela. Então, para evitar alguma impertinência, devemos respeitar o velho no seu canto e a orquídea no dela, tornando essa harmonia uma regra de satisfação para o idoso e de viço e beleza para a planta. Por vezes fico pensando no capricho e na infinita e maravilhosa capacidade da criação divina, quando floresceu o mundo. E, sem querer cometer um sacrilégio, arrisco dizer que o criador, além de tudo, também é jardineiro. E, essa é a maior prova que Ele existe.

COMO ENTENDER ?

COMO ENTENDER? aquilo era muitíssimo elevado, evoluído e complicado para um cientificamente pobre coitado, como eu me considerava e ainda me considero. Por falar em Einstein e a sua teoria da relatividade ou a sua equação: E=Mc2, eu logo fui achando que estava tudo mais do que correto e não tentei entender nada, pois Depois de muito tempo veio a teoria das partículas subatômicas, uma delas o tal de bóson de Higgs, apelidado de partícula de Deus e que teria sido responsável pela organização de tudo depois do Big Bang. (Acho que escrevi aqui algumas bobagens), se não foi isso, deve ser outra coisa, nem parecida com isso, dificílima de entender. Vamos parar como dizia Adoniran Barbosa, com essa conversa “que nois num intende nada” e vamos tentar entender outra coisa. Assim, por exemplo, por que o Maluf, ladrão condenado mundo a fora, além de estar livre no Brasil, ainda tem prestígio político a ponto de ter sido procurado por um ex-presidente da República e pelo prefeito eleito de São Paulo, para emprestar seu apoio, trocado por um punhado de cargos no governo? Essa história também não dá pra entender, acho até que é mais complicada do que aquelas coisas lá do começo. Quando eu era jovem estudante e não entendia alguma fórmula da matemática, um saudoso amigo e colega, mais inteligente do que eu, sempre me dizia: _Se você não consegue entender, decore. Eu me lembro sempre disso, porém essa do Maluf não dá pra entender e eu me recuso decorar.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

ENGORDANDO O RONALDINHO

ENGORDANDO O RONALDINHO Paulo Toledo Outro dia estava, com minha neta, vendo um programa de TV. Estavam na tela belas bailarinas dançando de maneira perfeita, com muita graça e beleza. Mas, eis que de repente, não mais que de repente, cai na tela, em primeiro plano, um sujeito falando “abobrinhas”, um monte de bobagens mesmo. Essa figura, segundo a minha neta, é um apresentador muito famoso. Se dependesse de mim e se fosse possível, era melhor tirar aquele tipo da tela e deixar as meninas bailando. Tenho a certeza que o programa ficaria muito melhor. Depois disso, dois ou três dias depois, li em uma revista semanal, que aquele cidadão gordo, grande feio e sem graça, ganha uma fortuna para atrapalhar a dança das garotas. Foi um verdadeiro espanto para mim, pois acho que para fazer aquilo que ele faz, qualquer um, menos dotado de salário, consegue fazer. Como eu suponho que ninguém entende de televisão e a minha neta, que é muito jovem, também não, fui perguntar a um amigo, que se diz “expert” no assunto, portanto mais atualizado do que nós, qual a razão daquele profissional ser tão valorizado no mercado de trabalho? _É uma questão de “marketing” e “IBOPE”. Respondeu ele. Santo Deus! Quando você pensa que já aprendeu um monte de coisas inúteis, ainda vem essa de “marketing” e “IBOPE”. Pode parar, vamos ficar por aqui. Agora, se por um lado a TV de maior audiência no país, paga ao Ronaldinho, um gordo que já é muito rico e engorda a sua conta bancária com milhões, só para ficar medindo a sua pança, durante várias semanas e dizem que isso é “marketing” e dá “IBOPE”. Por outro lado, fico com pena dos pobres telespectadores que têm que agüentar essa baixaria ridícula, apenas lastimando que esses milhões não tenham sido, agora sim, destinados para engordar subnutridas, que estão por aí.

URUGUAIANA 2

URUGUAIANA PARTE 2 Paulo Toledo Estou fazendo hoje cinqüenta e três anos de casado (12/12 /2012). Penso que este fato, aniversário de casamento, que para este casal tornou-se rotineiro, é coisa muito exótica, estranha e inusitada, quando se repete assim tantas vezes nos tempos atuais. Pois, na nossa chamada sociedade de consumo, quando as coisas estragam, não se manda consertar, simplesmente são trocadas por outras. Aliás, esse comentário de conserto e troca foi feito hoje, no café da manhã, pela minha querida esposa, que ainda me perguntou sobre quantas vezes tivemos de botar no conserto o nosso relacionamento. Daí, eu com a maior cara de pau, respondi que nesses consertos fizemos de tudo: meias-solas, remendos, retíficas e que também existiram algumas chamadas “gambiarras”, pelas quais eu assumo a inteira responsabilidade. Então, eu chego à conclusão plena, que apesar de todas essas restaurações, eu sou homem de uma só mulher e ela é a Ana Regina. Pois, tive a felicidade de encontrá-la, ainda menina, em Pouso Alegre e a paixão foi tamanha, que depois de uma breve namoro de semanas, me senti obrigado a partir para o Rio de Janeiro, cidade onde ela morava, para continuar o namoro, depois o noivado e o casamento. Hoje, no qüinquagésimo terceiro aniversário de nosso casamento, Ana Regina continua bonita e saudável. Ao contrário deste pobre “escrevinhador” que está muito gasto e usado. No entanto, eu espero que ela me ature e suporte mesmo assim combalido e meio estragado por algum tempo. Isto porque, se nas suas pequenas ausências eu me desespero, com certeza, não posso imaginar como seria a minha vida sem a sua companhia.

URUGUAIANA

URUGUAIANA Paulo Toledo Não eram os mosqueteiros e nem existia entre eles um Dartagnan. Eles eram tão somente os quatro Aspirantes que, formados pela Academia Militar, tinham escolhido a cidade de Uruguaiana para iniciar suas carreiras como oficiais do Exército. Muito Longe dos seus respectivos chãos, de suas famílias e enfiados na fronteira gaúcha com a Província de Corrientes na Argentina. Isso, na metade do século passado. Põe tempo nisso! No que me concerne (aprendi isto com o Jânio Quadros), o choque cultural e a Mudança de vida foi brutal. É só pensar em um rapaz de vinte e dois anos que teve uma vida até então super vigiada e controlada: seja pelo lugarejo em que nasceu e viveu em Minas, pelo internato no colégio e depois pela rígida disciplina militar do cadete das Agulhas Negras e de repente, começa a sentir que agora e naquele lugar é um oficial do “glorioso” Exército Brasileiro, então, por isso está sendo recebido de braços abertos pela sociedade local. Mas, voltando aos quatro, lá estão eles em Uruguaiana: Geraldo, Zé Pinto, Miguez e eu. Com algum dinheiro no bolso, livres, leves e soltos, em uma cidade cheia de lugares para gastá-lo. E, ainda bastava atravessar a ponte do Rio Uruguai para estar em Passos de Los Libres, cidade argentina onde nossa grana era bem valorizada. Então, essa foi a primeira grande compensação pela “ralação” que tivemos até chegar por aqui. No nosso quartel, que ainda era hipomóvel, tão logo nos apresentamos, cada um recebeu sua função, seu ordenança e sua montaria. Meu ordenança, soldado Tadeu, ficou então sendo o tratador do cavalo crioulo negro de nome corvo para mim distribuído. Esse soldado era um gaúcho da campanha, bom de papo e cheio dos ditos gauchescos engraçados, em pouco tempo ficamos amigos e ainda hoje me lembro de algumas comparações cheias de malícia feitas por ele. Dos quatro Aspirantes: Geraldo sumiu, desapareceu das minhas relações, coisa que deve ter acontecido por falta de afinidade mútua; Zé Pinto tornou-se um grande amigo, mas infelizmente faleceu ainda bem jovem, vítima de um acidente aéreo; Miguez vive em Belo Horizonte e está no seu segundo casamento. Do seu primeiro casamento eu não posso esquecer, porque fui eu que tive a honra de formalizar o pedido ao Seu Euclides, pai da noiva. De Uruguaiana quase tudo está apagado e o pouco que vem está borrado em minha memória. Porém, lá longe, muito longe, vem a figura da Leoní, minha namoradinha dos últimos tempos na cidade, menina que eu achava que seria a minha companheira para sempre. No entanto, voltando para Pouso Alegre, apareceu a Dona Regina...... (Bem, essa é uma outra história.)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O CAMELÔ

O CAMELÔ Paulo Toledo Quem se lembra do compositor Billy Blanco, deve se lembrar da letra de uma música sua que diz: O camelô esse dono da calçada, Na conversa bem jogada, Vende a quem não quer comprar,...... Ele é vesgo pois a profissão ensina, Ter um olho na esquina e outro no freguês, Assim de vez em quando escapa, Gozando a cara da “rapa” No entanto, na nossa cidade ele não precisa ser vesgo e nem ter medo de nada, ocupa toda a calçada e ainda reserva duas vagas de veículo para sua atividade. Creio que devemos respeitar o cidadão que trabalha para sustentar a sua família. Mas, às vezes eu me pergunto se não é um privilégio o fato de determinados indivíduos ocuparem espaços públicos para comercializar bugigangas, sem que sejam proibidos pela fiscalização municipal. Pergunto ainda, se por acaso, alguém que tivesse a coragem e se julgasse com iguais direitos, chegasse primeiro, na frente do privilegiado, colocando no mesmo local uma barraca de quinquilharias, coisas mesmo inúteis totalmente para a comunidade, parecidas com a do “dono” do espaço público, o que poderia acontecer com ele? O camelô atual teve a sua origem no mascate e no vendedor ambulante, que iam apregoando e vendendo os seus produtos de porta em porta. Nossa cidade teve dois exemplos muito representativos desses profissionais. Todos os antigos moradores de Pouso Alegre lembram-se do Biju e do Amendoim Torradinho da Avenida Dr. Lisboa. Essas figuras ficaram marcadas e queridas na nossa história e são lembradas com muita saudade. No entanto, os atuais camelôs, verdadeiros donos do centro da cidade, estão descaracterizando a Avenida e a Praça Senador José Bento, Tomaram conta de tudo e nesse “andar da Carruagem”, logo estarão cobrando pedágio nesses logradouros, dos intrusos demais moradores, que não compram as suas chorumelas, pinóias, titicas e bobagens, mesmo que custem ninharias, mixarias ou tutaméias. Pois é, não devemos menosprezar assim os camelôs, depois que um dos seus legítimos exemplares, o Sílvio Santos conseguiu despontar como grande empresário e o maior puxa-saco de governo, seja qual for. No entanto, também não podemos deixar que eles tomem conta da cidade, pois nela vivem milhares de pessoas e não só eles. Para finalizar, puxando a braza para minha sardinha e vendo a situação atual da Praça Senador José Bento, que ainda funciona como local de encontro e convivência de velhos aposentados, pergunto que tal trocar os seus camelôs por uma equipe de urbanistas?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CHIQUINHO DA BORDA

CHIQUINHO DA BORDA Paulo Toledo Procurando nos últimos escaninhos da memória, eu me vejo coroinha na igreja de Congonhal, e depois, como interno no Colégio São José. Logo, cercado de padres por todos os lados. De quase todos guardo lembranças vagas. No entanto, a lembrança de um deles sempre esteve muito nítida na minha memória, pois penso que era para ele que a diocese destinava as coisas mais difíceis e complicadas. Assim, lembro-me do Cônego Oriolo em Congonhal às escuras, conduzindo uma procissão, iluminada apenas pelas velas dos fiéis, enquanto executava um ritual de excomunhão de um padre que havia abandonado a batina. E, para espanto do moleque que eu era, a procissão virou de costas e passou de marcha-ré em frente à casa onde se encontrava o “excomungado”. (Coisa da Idade Média). Também encontro a cara gorda do Cônego Oriolo na capa da revista “O Cruzeiro” (A “Veja” daquela época) quando de olhos esbugalhados falava do exorcismo que praticara na paróquia de Borda da Mata. Aí vai o resumo do que o cônego deixou registrado no “Livro do Tombo” daquela paróquia: ____ “Em meados de fevereiro de 1953, benzi a casa senhor Alberto Simões de Carvalho para afastar barulhos estranhos que aconteciam à noite.”.......... No entanto, o barulho aumentou e na Semana Santa uma voz que se dizia chamar ‘CHIQUINHO’ comandava um animado baile, com uma gritaria infernal de palavrões horríveis........ Orientei o Sr. Alberto para que fosse a Ouro Fino procurar frei Belchior, sacerdote capuchinho que já havia praticado exorcismo na Itália........... No dia 11 de abril, no ritual de exorcismo praticado por mim e por Frei Belchior, a voz se revelou: ‘EU SOU O CAPETA’, renegou uma relíquia de Santa Terezinha: ‘ISSO É UMA MENINA’ e para uma medalha de Nossa Senhora cometeu o sacrilégio: “ISSO NÃO PRESTA”............... “Finalmente no dia 25 fiz a entronização do Sagrado Coração de Jesus no lar do Sr. Alberto e tudo ficou em paz”

O CARA DE PAU

O CARA DE PAU Paulo Toledo De um lado desta história está um açougueiro do Bairro da Faisqueira, que tendo a família grande, a freguesia pequena e o controle precário sobre suas finanças ficou endividado. Mas, tão na pindaíba que os juros bancários, enquanto teve crédito, consumiu o seu pequeno patrimônio. Alias, coisa muito comum nos dias atuais, quando os bancos estão aí mesmo para chupar o sangue do cidadão até a última gota e depois se vangloriarem dos lucros astronômicos que larapiaram (está no dicionário, pode conferir) de todos nós. Do outro lado está um amigo meu, também companheiro de pescaria, forte como um touro, “brabo” como uma cascavel e super cismado de que todo mundo quer passá-lo para traz nos negócios. Coisa de boiadeiro. Eu vivo tentando amansá-lo nos poucos contatos que temos agora e que foram muito freqüentes no passado. Porém, ele sempre sorri e diz que eu posso ficar tranqüilo, que comigo não vai ter briga, a menos que eu coloque negócio de mãe no meio. Coisa impossível, pois eu sou de boa paz e muito respeitador das progenitoras alheias. Esse meu amigo boiadeiro fornece a matéria prima para os açougues da cidade e foi assim que tendo vendido para o magarefe da Faisqueira, durante um bom tempo, por razões obvias, ficou sem ver a cor do dinheiro. Cobrança vai, desculpa vem muitas vezes e a “brabeza” do boiadeiro foi crescendo, até que um dia resolveu dar um ultimato para o devedor. Assim, o possível caloteiro tinha uma semana para resolver sua dívida ou então teria sua cara devidamente partida. Diz o meu amigo que não foi capaz de cumprir a sua ameaça e não quebrou a tal cara porque a desculpa que recebeu dessa vez o desarmou e por pouco não lhe provocou uma boa risada. Veja qual foi a desculpa do cara de pau: _ Olha aqui Celsão, eu devo pra você e pra um mundão de gente. Então, quando eu tenho alguma grana sobrando eu faço um sorteio pra ver quem eu posso pagar. E, se você continuar me enchendo o saco eu vou tirar você do sorteio.

ACREDITE SE QUIZER

ACREDITE SE QUIZER Paulo Toledo Próximo ao portão principal, quase no portão mesmo, do Cemitério Municipal da Rua Comendador José Garcia, existe um boteco que eu acho que é o paraíso dos “bebuns”. Eu digo isto porque você pode passar por lá, a qualquer hora do dia ou da noite e ver a turma “chupando o mé” sem parar e na maior alegria. Acontece que o cemitério tinha e deve ter ainda dois portões: um na Comendador e o outro que dá para os fundos, onde existe um bairro muito populoso. Então, esses tais portões são a entrada e a saída de um atalho que passa pelo campo santo e que, obviamente, ficam sempre fechados à noite. Um dos freqüentadores assíduos do tal boteco, que eu já me referi, é um pedreiro meu amigo morador lá das bandas do fundo da casa dos mortos, para quem esse atalho facilita muito a vinda pro boteco durante o dia. Acontece que esse meu amigo pedreiro é também um contador de “causos” e ele jura de pés juntos que em uma noite, saindo do boteco, estanhou muito o fato do portão do cemitério estar aberto e mais ainda, a presença de no local de uma loira muito bonita e convidativa. Então, ele perguntou à loirona, para iniciar uma conversa, se por acaso ela sabia se o portão dos fundos também estava aberto. Aí a sua surpresa se multiplicou quando ela simplesmente entrou no cemitério e lhe disse: _Me acompanhe. Virgem Santa! Pensou ele, agora é só engrenar a cantada que a loira está no papo. Então falou: _ A menina não tem medo de atravessar o cemitério assim “de noite”? A resposta veio fulminante: _ Quando eu era viva tinha.

ALHO, PIMENTA E SAL

ALHO PIMENTA E SAL Paulo Toledo Quando menino cheguei a Pouso Alegre, para o internato no Colégio São José. Logo percebi que os serviços públicos da cidade, principalmente água e luz, eram muito precários. Isto porque o prefeito da cidade era ou tinha sido o Dr. Sapucahy, mesmo nome do nosso maior rio. Sua esposa chamava-se Dona Judite e como o casal não tinha filhos, os críticos maldosos (eles sempre existiram) adaptaram a seguinte quadrinha: “Pouso Alegre, cidade que seduz. O sapucahy não dá água E a Judite Não dá luz.” Imaginem então Congonhal, que era apenas um distrito de Pouso Alegre. Lá a energia elétrica só existia à noite, vinda da sede do município, por meio de uma linha de transmissão de postes de madeira, de péssima qualidade, que não resistiam qualquer ventania ou chuva forte. Os críticos diziam que a iluminação das ruas de Pouso Alegre era tão ruim, que nos postes tinha um punhado de tomates pendurados em vez de lâmpadas. Pois a de Congonhal, quando tinha luz , era pior. Assim, lá nas noites escuras de Congonhal faziam o maior sentido os versos do grande poeta Ascenso Ferreira: “Na noite tão preta como carvão. A gente falava de assombração” . Então, esse era o assunto predileto e dominante nas minhas noites de menino. E, apesar da fama que eu tinha de corajoso, na verdade morria de medo de assombração. Coisa que, aliás, por muito pouco não se tornou real na minha vida de garoto. Pois, nas noites escuras de Congonhal cheguei a sentir calafrios e estranhos arrepios na espinha. Só faltou mesmo topar com alma penada. Que bom que hoje as assombrações e fantasmas foram todos exorcizados da vida real e passaram definitivamente para os filmes de terror. Mas, não custa nada a gente recomendar para quem tenha que enfrentar algum lugar com fama de mal assombrado, que não esqueça de levar um crucifixo e uma boa provisão de alho, pimenta e sal. Coisas que o tinhoso não gosta. Pois, certo estava Miguel de Cervantes: : “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.

QUEM MATOU O PADRE SENADOR JOSÉ BENTO

QUEM MATOU O PADRE SENADOR JOSÉ BENTO? Paulo Toledo Após seus deveres de chefe espiritual e político de Pouso Alegre, o Padre e Senador do Império, José Bento Ferreira de Melo, às 16h30 do dia 8 de fevereiro de 1844, apeia de seu cavalo e vai fazer um lanche rápido na casa de sua comadre Maria Bárbara do Sacramento Vilhena. Na saída, Maria Bárbara diz para o Senador: "Cuidado, existe um zum-zum que estão preparando uma tocaia para o senhor", José Bento, responde: "Isto é boato. Quem poderá atentar contra um Senador do Império?" E segue em seguida rumo à sua fazenda para acompanhar a colheita do milho e ver seu gado leiteiro. Naqueles tempos, a demarcação de terras era a principal fonte de conflitos entre os confrontantes. Dizia-se, em razão disso, que a vizinhança, contratara um pistoleiro para dar cabo do Senador. Mas ele, destemido, não deu ouvidos à sua comadre e seguiu viagem Às 17 horas, logo após a Rua das Taipas (hoje alto da Comendador José Garcia), no caminho velho da Faisqueira, logo após a subida da Volks - de tocaia, surge a figura do pistoleiro Dionísio Tavares da Silva que, com dois tiros de garrucha, implacavelmente assassina o grande Senador do Império. Dionísio, o pistoleiro contratado, foi descoberto um ano depois e recebeu uma pena de 30 anos de prisão que cumpriu em Barbacena. Já em liberdade, quarenta anos depois, Dionísio velo visitar Pouso Alegre e se tornou, então, pessoalmente conhecido por toda a população. FONTE: Blog do Bentu, o Blog da cidade de Senador José Bento 13 de Junho

CABO JURANDIR

CABO JURANDIR Paulo Toledo A guarnição Militar de Pouso Alegre, em passado recente, era um comando de general. Vários deles por aqui passaram deixando suas marcas e seus “causos”. De um deles às vezes eu me lembro, não só pela sua pose e porte, como também pelo acontecido entre ele e o seu motorista, o famoso Cabo Jurandir. Esse cabo era conhecido no meio da “milicada” pelo apelido de “cabo loco” e essa sua “trapalhada” foi, mais ou menos assim: O general estava no Rio de Janeiro e como tinha conseguido um avião da Força Aérea para voltar para Pouso Alegre, ligou para o quartel pedindo que mandassem o seu motorista até o campo de aviação da cidade, que o dito avião deveria chegar, naquela tarde, lá pelas 16.00 horas. Assim, o Cabo Jurandir deu uma geral no carro preto, engraxou os sapatos, caprichou na farda e se mandou pro campo de aviação. Chegando lá, desceu do carro, encostou-se ao mesmo e ficou esperando o avião do chefe. O avião chegou antes do escurecer e dava seguidos rasantes sobre a pista e não aterrissava. Pois o gado do pasto vizinho tinha rompido a cerca de arame farpado e algumas vacas estavam no meio da pista. O Piloto temendo o escurecer, vendo a passividade do motorista encostado no carro preto e sentindo que dali não saia nada, depois de um bom tempo e de vários rasantes, balançou as asas do avião, pra lá e pra cá e voou para Poços de Caldas onde a pista era iluminada. Como o avião balançou as asas e sumiu no horizonte, o Cabo Jurandir voltou para o quartel e guardou o carro preto. Chegando à Poços de Caldas o general pegou um táxi para Pouso Alegre e no quartel, puto dentro da farda, a primeira coisa que fez foi chamar às falas o seu motorista. Porém este na maior “cara de pau”, assim se explicou: Meu general, o avião balançou as asas, pra lá e pra cá. Avisando: general não veio , general não veio, então eu voltei pro quartel e guardei o carro.

BECO DO CRIME

BECO DO CRIME Paulo Toledo Era noite de Natal do ano de 1955,quando a voz solene do Monsenhor Otaviano, pároco da Catedral Metropolitana, rompeu o silêncio pelo alto falante da igreja: ”Meus queridos fieis... infelizmente, nesta noite santa em que nasceu o filho de Deus, uma ovelha do seu rebanho partiu. Uma jovem está morta em um beco da cidade. É preciso que alguém vá lá reconhecer o corpo de uma pobre menina!!! Jacira tinha 13 anos e era a caçula de uma família que tinha 11 irmãos e irmãs. Todos que a conheciam viam nela uma menina linda e super protegida pelos irmãos e pelo pai Zé Castelhano. Jésus Damasceno era meio mulato, boiadeiro, açougueiro e ainda não tinha completado 18 anos. Mas, escondido do pai da moça, mantinha um namorico com a bela Jacira. As famílias eram pobres, no entanto era comum naquela época o pai desejar um bom partido para a filha, coisa que Zé Castelhano e seus filhos achavam que estar longe das condições de Jesus Damasceno. Então, o pai de Jacira chamou o rapaz às falas e proibiu definitivamente o namoro. O respeito aos mais velhos e ainda mais se tratando do pai da sua amada também era coisa sagrada naquela época. Então, Jésus endoidou e como só visse a solução extrema dos Capuletos, naquela noite fatídica levou dois punhais à catedral e chamou a sua amada para consumar a tragédia. A cena aconteceu em um beco da cidade: Ela não teve força ou coragem para apunhalar seu amado. Ele a apunhalou cobriu o corpo com seu palitó e fugiu. E, este beco da cidade “Beco do Crime” se chamou. (fonte: Blog do Airton Chips)

domingo, 9 de dezembro de 2012

EU E A CIDADE

EU E A CIDADE Paulo Toledo “O centro do mundo é onde estão plantados os nossos pés”. Li isto hoje em uma crônica e tive vontade de falar sobre a cidade onde vivo. Isto porque fiquei velho nesta cidade e há algum tempo eu comecei a pensar que faço parte da sua história, coisa mínima, como qualquer um de seus mais humildes habitantes. Mas, todos devem ter dado alguma contribuição, por menor que seja para o desenvolvimento e a importância de Pouso Alegre dos dias atuais. Aqui neste chão eu me sinto bem, porque aqui estão pessoas amadas e queridas: meus parentes, meus amigos e muitos conhecidos que, com raras exceções, me tratam com bondade e sempre me acolhem com o maior respeito. Acho até que as exceções que são raras mesmo, devo colocar na conta de alguns forasteiros mal educados. Esta cidade não tem a melhor qualidade de vida do país e suponho que também do Estado de Minas Gerais. Pois isso é coisa da estatística que já disseram, com razão, que é o tipo da ciência frívola. Mas, para mim ela lembra muito uma fábula que conta a resposta dada por um sábio, quando lhe perguntaram de onde ele era e a sua resposta foi mais longa que a esperada: “Quando eu era menino, na escola primária, a professora ensinava os pontos cardeais e dizia: na nossa frente está o norte, atrás esta o sul, à direita o leste e na esquerda o oeste. Aí, vendo que eu estava distraído, me perguntou onde é que eu estava. Então eu respondi prontamente: todos nós estamos no centro do mundo”. Aquele menino da fábula sabia das coisas e eu aqui em Pouso Alegre me sinto como ele, achando que tudo existe para que esta cidade exista, uma vez que eu a escolhi para morar, criar a minha família e viver enquanto puder.

sábado, 1 de dezembro de 2012

NO BAR

NO BAR Paulo Toledo Eu sempre gostei de um papo e de uma cervejinha, então, como essas coisas acontecem é no boteco, foi para lá que eu me mandei e lá permaneci, freqüentando-o assiduamente, durante um bom tempo. Mas, qualquer um pode perguntar: Por que boteco? Cerveja tem em casa e papo também. Respondo: A cerveja pode ser a mesma, mas a conversa em família tem que ser respeitosa e cheia de regras e a do botequim é totalmente desregrada, desbocada e, às vezes, até pornográfica, melhor dizendo: pura baixaria. No ambiente do boteco também aparecem os tipos mais estranhos e divertidos. Alguns até são interessantes e outros meio malucos. Tanto uns como os outros ajudam a animar a prosa. A entrada no bar é coisa solene, pois o freguês chega à porta como quem não quer nada, depois dá uma olhada no ambiente e se a sua turma ainda não chegou, começa a examinar a clientela e quase sempre acha alguém esperando companhia. Daí, já se estabelece o papo e a cerveja já vem. Se por acaso o cara não for uma mala, logo será admitido na confraria. Quando a turma está reunida a coisa pega fogo e se anima porque afloram todos os tipos de assunto: piadas, fofocas, notícias da cidade, política, religião, gozações e os comentários mais absurdos e engraçados do dia-a-dia da cidade, do país e do mundo. Agora, escrevendo estas coisas, bateu muito forte, dentro do meu peito uma saudade imensa da minha turma de bar, a nossa chamada confraria do Uiapurú, turma essa que era numerosa, mas que a maioria já está do lado de lá, tomando “umas e outras” com o velho São Pedro. Isso mesmo, enquanto aguarda os remanescentes, que do lado de cá, pela idade e condições físicas, em vez do boteco vão para a farmácia. Trocaram a cerveja por uma penca de remédios.