quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

FÉ Paulo Toledo Dizem que tudo que se escreve é mais ou menos autobiográfico. Por isso, fui recuperar algumas coisas escritas no passado, para ver se lá eu estava. Perdi a viagem, só achei pedaços e fragmentos do que eu possa ter sido. Mas, notei que nos meus guardados falta um assunto, o tema que é o mais importante desta nossa travessia pela vida. Então, se o que eu escrevi for tomado por uma espécie de diário, algum desavisado vai dizer: “esse caboclo é ateu”. Acontece que sempre existiu uma razão, um motivo, para que eu não tivesse a coragem de escrever algo sobre religião, pois esse assunto para mim estava e ainda está reservado para gente sábia e iluminada. Coisa muito distante do que eu me considero. Em outras palavras, esse assunto não é pro meu bico. Agora, quando eu falo em gente sábia e iluminada, não estou me referindo somente às pessoas eruditas. O exemplo disso é o que João Guimarães Rosa põe na boca do Riobaldo, no Grande Sertão e Veredas, que me encanta pela simplicidade, beleza e sabedoria: “O que mais penso, texto e explico: todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é o que sara da loucura. Isso é que é a salvação-da- alma...Muita Religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio...” Lá em Congonhal, também tinha um homem muito bondoso e simples, o Pedro Belizário, que quando rezava o terço na igreja, fazia com a maior fé do mundo, contemplando os mistérios do terço de forma muito original. Assim, para começar a reza ele dizia: “No primeiro mistério ‘comtempremo’ São José sentado num Toco”. Acho que esse terço era o mais considerado pela Sagrada Família. Eu dele sempre me lembro quando entro em qualquer igreja. A grande verdade metafísica da existência de Deus, para mim passou a ser coisa definitiva e fora de discussão, quando o meu saudoso irmão Chico Toledo, abordando o tema me disse que foi o próprio criador do universo que colocou no ser humano a prova da sua existência. Porque ela está presente desde a cultura mais adiantada, mais elevada, até a tribo mais primitiva, onde vamos encontrar o bom selvagem, ajoelhado adorando o sol, a lua ou algo considerado sagrado, porque foi o criador de tudo. Assim, deixo aqui registrado que a minha crença vai navegando desde as palavras do Riobaldo, passa pela fé do povo da minha terra e se sustenta na grande lógica do meu irmão Chico Toledo.

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