quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

SÃO PAULO

SÃO PAULO Paulo Toledo Cheguei a São Paulo pela primeira vez com 17 anos. Puxa vida! Já faz mais de meio século! Barbaridade! Mais de 60 anos! Então menino, morava em um antigo hospital, que tinha sido desapropriado da colônia alemã paulista, por causa da segunda guerra mundial e transformado em uma escola de cadetes do Exército. Cursando essa escola, aprendi um pouco de matemática e quase nada da vida. Apertando e espremendo a memória, de dentro da Escola Preparatória de Cadetes de São Paulo, a velha EPSP, só restam poucas lembranças de alguns colegas e imagens tênues das aulas magistrais do mestre Quintanilha, que além de ensinar português, transmitia à meninada o gosto pelas artes em geral: literatura, teatro, cinema etc... Fora da escola, ficou a recordação dos encontros, de final de semana, com os meus irmãos que moravam em uma pensãozinha burguesa. São Paulo hoje está tão distante, como quando eu era menino e ouvia as conversas das pessoas da minha terrinha, que tiveram a coragem incrível de viajar até lá. É isso mesmo, quem chegava de São Paulo em Congonhal ficava famoso, virava herói. Então, reunia a família, os vizinhos e todo mundo para contar sua grande aventura. Daí saiam coisas incríveis. Dessas estórias contadas para definir São Paulo ficou uma do Dito Carbone. Dito Carbone era cunhado do meu tio Tuany e figura meio folclórica do Congonhal. De repente virou farmacêutico e chegou a ser vereador, representante do lugar, na câmara de Pouso Alegre. Pois bem, Carbone contava pra todo mundo que São Paulo tinha de tudo e que tudo lá virava dinheiro. Para ilustrar a sua tese, citava como exemplo um corredor, existente entre prédios altíssimos, que ligava a Praça da Sé a uma outra praça e só dava mão nesse sentido. Pois nesse corredor a malandragem colocava um tambor que tinha um furinho na parte de cima. Do lado da Sé a turma anunciava uma grande surpresa e cobrava a entrada no corredor. Formada a fila, entrava um de cada vez. Chegando ao tambor ele era convidado a enfiar o dedo no tal buraquinho. Retirado o dedo, o malandro pedia que o curioso cheirasse o dedo: __É merda!!! __É merda mesmo. Manda outro. Outra estória, mais recente, mais nem tanto, é a do Tião Borracheiro. Tião trabalhava em uma empresa de ônibus consertando pneus furados. Trabalho braçal, muito bruto, na marreta mesmo. Operário muito dedicado e querido do patrão foi levado a conhecer São Paulo.. Como chegaram muito cedo a capital, o primeiro ponto a ser visitado foi o CEASA. No CEASA, Tião se deparou com um galpão imenso abarrotado de repolho até o teto e não se conteve: __ Seu Zé, lá na roça do meu pai, nós plantamos uns 200 pés de repolho e não havia na nossa família, na vizinhança, e no bairro, quem desse fim na lavoura. Apodreceu repolho, fermentou tudo e foi uma fedentina filha da puta. Baixou até urubu. Naquela tal CEASA, vai acontecer um desastre, com aquela quantia de repolho. Vai dar até no rádio e na televisão. Mais tarde, o Seu Zé mostrou outros pontos da cidade e, antes de voltar, deu uma passadinha pelo Viaduto do Chá. Então perguntou: __O Tião, o que você achou de São Paulo? __Vai faltar repolho, Seu Zé. Resposta inesquecível.

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