quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

TERRA NOSTRA

‘TERRA NOSTRA’ Paulo Toledo Lá também nos tivemos uma espécie de “cosa nostra”. Se não era igual, pelo menos, era parecida. Então, eu vou batizar essa coisa de Terra Nostra. Eu sou de lá, não posso negar a raça. Muito diferente de seu irmão, José era covarde e medroso. Ele era o que se chamava no lugar de um “cagão”. Joaquim nem parecia seu irmão, pois era um ganjento brigão e valentão. Vejam só como são as coisas, foi logo o irmão fraco, lerdo e molengo que foi arrumar uma briga feia. Nessa encrenca, como não poderia ser diferente, o Zé levou uma puta surra, um monte de desaforos e ainda a promessa de que a coisa podia não ficar por aí. Na próxima vez estavam prometidos tapas pela volta da orelha e uns ponta pés na bunda. José Então pediu a ajuda do irmão, dizendo que tinha vontade de matar o seu agressor, mas não tinha coragem, pois achava que podia apanhar de novo. O irmão que adorava um entrevero deu logo a solução: __Eu vou lá e mato aquele filho da puta pra você. Mas como eu não tenho nada com isso, é você quem vai responder o processo e cumprir a pena, se for condenado, basta dizer que foi você que fez o serviço. O “pobrema” é seu. Dito e feito. Joaquim atocaiou e descarregou uma espingarda calibre doze no peito e na cabeça do agressor do irmão. Ele só deu um gemido e partiu pra outra. Então, conforme o combinado, José assumiu a culpa e foi condenado. Isto parece ficção, mas não é. Aconteceu realmente em Congonhal. Pior ainda, todo mundo sabia e calava. Só se comentava ao pé do ouvido, de medo do Joaquim. Era a lei do lugar. Agora, tem uma coisa, às vezes, o mal feito é pago por aqui mesmo. Quando a gente pensa num casal, queremos dizer que normalmente são dois seres que vivem em harmonia, doação mútua, atração e até amor. Porém parece que isto só é verdade no reino animal, nos pássaros, por exemplo. Entre os seres humanos pode acontecer de outro jeito. Um homem e uma mulher podem viver juntos quarenta anos e um odiar o outro, durante todo esse tempo e só revelar isto no último suspiro do companheiro de infortúnio. Pois foi isto que aconteceu com Joaquim. Joaquim era amasiado com Delvina, mulher muito gaiata, extrovertida e extravagante. Ninguém sabia a relação que os dois mantinham entre as quatro paredes e levou o maior susto quando ouviu-a dizer, se despedindo dele moribundo: __Agora que você está indo pro inferno e eu vou ficar livre de você. Vou cobrar pela última vez o mal que você me fez. Vou cobrar muito caro por ter suportado a sua presença a vida inteira.. Então, eu quero que o capeta mais fedorento lá do inferno enfie você no lugar mais quente que tenha por lá. Quando você me pegou, eu era uma menina e sei que pra você foi muito bom. Você gozou. Mais fica agora sabendo agora, que isto eu consegui com um mundo de gente e nunca com você. Quem estava presente depois comentou que o valentão morreu chorando. Se o Joaquim foi pro lugar que a Delvina o despachou ninguém tem condições de dizer com segurança. Mas acho que quando eles se encontrarem no dia do Juízo Final o pau vai comer.

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