quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

MON ONCLE

MON ONCLE’ Paulo Toledo Jaques Tati, o grande cineasta francês, fez um filme maravilhoso que se tornou um clássico do cinema. Nesse filme ele mostra um tio com todas as suas peripécias e sua graça em um mundo lúdico, onde a perfeição não evita o inusitado, na relação de um tio, meio desastrado, com um querido sobrinho. Para mim, esse “mon oncle” é o meu tio Custodinho, irmão mais novo do meu pai. Sua figura está guardada, com muito carinho, no fundão da minha memória. Agora, fazendo algum esforço, de lá saem algumas cenas de sua vida como se fossem no cinema. É claro que todas não cabem num “causo”. Com certeza existirão outros. Com o tio Custodinho não havia meio termo, ou ele era dono da linha de jardineira, o ônibus daquela época, que ligava Congonhal a Pouso Alegre, ou era o banqueiro do jogo do bicho, com o nome do bicho escrito dentro de um envelope pendurado no poste, para ser aberto, na hora marcada, depois de recolhidas as apostas. Dizem que às vezes, de madrugada, ele trocava o bicho que estava carregado de apostas. Assim, ou estava bem de vida, gastando à vontade com os apetrechos de caça e pesca, suas diversões preferidas, ou estava quebrado vendendo esses apetrechos. Uma das cenas que vem a mente. Eu o vejo desfilando pela rua de Congonhal vendendo sua espingarda de caça e então lembro-me do diálogo de meu pai com a minha mãe: __Olha Sílvia, o Custodinho precisa de ajuda, pois está vendendo o objeto que ele mais gosta. Antes de ser o tabelião de Congonhal meu pai lá exerceu a profissão de farmacêutico, alias com muita competência, menos na hora de cobrar pelos remédios, isso ele não sabia. Então, existia na farmácia uma gaveta cheia de receitas que foram aviadas e que não foram pagas. Coisa antiga. Numa das quebradeiras do tio Custodinho, meu pai penalizado, mostrou-lhe a gaveta e disse: __ Custodinho, pega essa papelada e vê se consegue alguma coisa. Você tenta. Meu tio topou. Pegou a papelada e sumiu por um bom tempo. Quando voltou estava guiando um carro Ford 29, exibindo uma espingarda de caça novinha e ainda comprou a padaria do lugar. De Congonhal , meu tio mudou-se para Brazópolis, onde de padeiro ele se transformou em farmacêutico. Nesse meio tempo ainda teve uma passagem por São Lourenço, onde foi banqueiro do jogo do bicho, Mas eu vou pular esse pedaço. Para terminar este causo, só vou contar a sua participação no romance do Amadeu com a Lola. Como dono de padaria, meu tio não tinha a menor idéia de como aquilo funcionava. Quem tocava a coisa era seu empregado Amadeu, verdadeiro pé de boi no serviço. Então quando se mudou para Brazópolis, só conseguiu levar o Amadeu com a promessa de que ele seria liberado tão logo a situação se estabilizasse. Porem Amadeu era apaixonado pela Lola uma loirinha de Congonhal bem bonitinha. Acontece que chegando em Brazópolis a paixão bateu pesada e o Amadeu queria voltar no dia seguinte.Tio Custodinho pediu-lhe calma e convidou o meu irmão mais velho Francisco, que ainda era menino, para passar uma temporada em Brazópolis. Quando Francisco chegou de jardineira o tio o estava esperando no ponto, abraçou-o deu as boas vindas e disse: Olha Chico, você é o meu sobrinho predileto, veio aqui para pescar e caçar comigo, nós vamos divertir à beça. Mas se o Amadeu perguntar pela Lola, você diz que ela arranjou outro namorado. Esta estória me foi contada cinqüenta anos depois pelo meu irmão. Ele ainda concluiu: Até hoje eu morro de remorço.

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