quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

NARIZ

NARIZ,. NARIZ E NARIZ Paulo Toledo Acho que todos nós, quando estávamos começando, no curso primário ou secundário sofremos algum tipo de brincadeira de mau gosto, que nos irritava profundamente, aumentava a nossa timidez e que no meu tempo de estudante não tinha o hoje pomposo nome de bulling. Bastava que a turma descobrisse um ponto fraco na vítima, que daí pra frente, em todas as oportunidades, os mais fortes deitavam e rolavam em cima do pobre coitado. E, como é óbvio, o fracote nunca reagia ou como se dizia, chamava pro pau ou para a briga. Lembro-me que para esconder as coisas que pudessem me colocar na berlinda da turma, eu era extremamente tímido e procurava sempre permanecer na penumbra, falando pouco ou quase nada, a ponto de gelar, na sala de aula, quando tinha que responder uma pergunta do professor. E, se ele me chamasse para o quadro-negro para resolver um problema, aí mesmo é que não saia nada. Hoje, eu tenho alguma dificuldade para avaliar como foi que me livrei daquela timidez quase patológica, que me acompanhou por um bom tempo. Penso que isso aconteceu no momento em que eu resolvi reconhecer e assumir o meu perfil físico. Pois seria impossível tornar-me um belo e garboso rapaz e muito difícil livrar-me da fama de ter um nariz digno do Cyrano de Bergerac. No entanto, eu poderia equilibrar isto adquirindo algumas qualidades, ou seguindo o conselho de um velho mestre e procurar uma bela mulher para nivelar as coisas. Isso eu consegui. Então, teve um momento que eu mesmo acompanhava as gozações sobre o meu narigão, declamando Bocage: “Nariz, nariz, e nariz, Nariz , que nunca se acaba; Nariz que se ele desaba, Fará o mundo infeliz Nariz que Newton não quis Descrever-lhe a diagonal; Nariz de massa infernal, Que se o cálculo não me erra, Posto entre o sol e a terra, Faria o eclipse total! Acho que foi a partir daí que comecei o tratamento contra a timidez. E, escrevendo isto agora me veio à lembrança um colega meu do internato do Colégio São José, que tinha uma perna mais fina e curta do que a outra e cujo apelido era “manco” (só podia ser). Mas, com ele ninguém “tirava brincadeirinhas”, porque ele era muito forte e brigão. Porem, um dia, ele foi chamado na aula de literatura portuguesa para declamar o poema de Guerra Junqueiro: “O Melro”. Quando ele se levantou para se dirigir à frente da sala, a turma soltou em voz baixa o tal apelido: manco, manco, manco...Aí então ele cometeu um terrível ato falho: encarou a turma e disse; “O Manco, Melro é a puta que pariiu Guerra Junqueiro”.

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