quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O LEÃO

O LEÃO Paulo Toledo Pescar lambaris no Rio Cervo, ou Rio Mamdu; jogar futebol na rua, ouvir a PRK 30 no rádio, caçar passarinho e ir ao circo, de vez em quando. Eis as diversões da meninada de Congonhal e de Pouso Alegre da minha saudosa infância. O circo era uma festa, um acontecimento fantástico e deslumbrante. Depois de sua passagem por estas bandas, a garotada se transformava em trapezistas, palhaços, mágicos e domadores. Alguns sonhavam com a possibilidade de acompanhar o circo e a sua troupe, outros, depois de adultos, até realizaram esse sonho. Em Pouso Alegre, em certa ocasião, apareceu um circo que fez o maior sucesso, o Circo Universo. Vou falar dele de novo e daquela que para mim foi uma deusa, a Amelinha no trapézio e na corda bamba. Amelinha era sensacional, pois exibia suas belas pernas numa cidade em que o bispo não permitia que as moças isso fizessem. Na época do Circo Universo eu estudava interno no Colégio São José e estava, absolutamente, convicto que Amelinha era a mulher mais maravilhosa do mundo. Depois de muito tempo, já como adulto, descobri que ela também foi a musa de todos os meus contemporâneos do colégio. O circo de Congonhal era diferente. O lugar era muito pequeno e então para lá só compareciam os circos mambembes, os mais derrubados, de lonas esfarrapadas e furadas. Os artistas eram sempre uns pobres coitados, pés de chinelo, fracassados e canastrões. Domador e fera só apareceu uma vez no circo do Zé Briguelo. Mas, o leão estava tão velho, que foi abandonado no largo da igreja, amarrado a um poste, quando o circo foi embora. O coitado desse leão que era magrelo, meio desdentado e tinha até a juba um pouco esbranquiçada, acabou sendo alvo da compaixão da população que, praticamente o domou e o transformou em um enorme gatão manso e meio vira-latas. Ele ainda viveu solto pelas ruas, graças aos restos de comida que recebia. Quando, finalmente, esse leão morreu, não deixou saudades no povo de lá, pois dizem que ele era um muito mal agradecido e que todas as tardes ia para a parte mais alta do largo da igreja e urrava: ÕÕÕÕÕ....LUUUGAR!!!!!.

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